Peça homenageia centenário da escritora Patrícia Galvão
O Teatro Estadual Maestro Francisco Paulo Russo de Araras traz um espetáculo diferenciado
nessa sexta-feira, a partir das 20h.
Formação intelectual e política de Patrícia Galvão (*)
2010-08-30 Adelto Gonçalves (**)Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), nascida em São João da Boa Vista, interior do Estado de São Paulo, foi jornalista, escritora, animadora cultural e militante política. Como jornalista, trabalhou no Diário da Noite, A Fanfulla, Diário de S.Paulo, Correio da Manhã, A Tribuna, de Santos, e Agência France Presse, em São Paulo. Sua formação intelectual e política deu-se mesmo na década de 1930. Mas, como foram os anos 30? Ao contrário do que se diz, a chamada Revolução de 30 foi um golpe militar como outro qualquer e não constituiu revolução social nenhuma. Foi apenas uma rearrumação das elites no poder. Assim, os cafeicultores paulistas, que haviam sugado as tetas públicas durante toda a República Velha (1889-1930), tiveram de dar lugar também a oligarcas de outros Estados, enquanto Getúlio Vargas levava para o Palácio do Catete o modelo de governo implantado por Júlio de Castilhos (1860-1903) no Rio Grande do Sul por 30 anos que serviu para configurar o Estado Novo, de índole positivista. Algumas conquistas foram obtidas pelos trabalhadores à época, mas nada há que prove que, se a República Velha tivesse durado mais quinze anos, esses avanços não teriam acontecido. A rigor, o Brasil continuou o mesmo país atrasado, com legiões de excluídos e analfabetos. Para piorar, o getulismo representou a quebra da ordem constitucional. E logo se transformou em ditadura sem qualquer disfarce, com perseguições a seus desafetos. A jovem Patrícia Galvão levantou-se contra isso, aderindo ao Partido Comunista do Brasil (PCB), que, como sempre, nunca passou de uma seita, sem qualquer perspectiva de empolgar as massas e alcançar o poder. Iludida, como ativista política e membro do PCB, ela combateu a ditadura de Getúlio Vargas, o que lhe valeu 23 prisões. Depois da Segunda Guerra Mundial, ao visitar Moscou, desiludiu-se com o comunismo soviético, rompeu com o PCB, passando a defender um socialismo de linha trotskista. Lúcia Teixeira, no livro Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos (Editora Cortez/Unisanta, 2004), reproduz um trecho do panfleto "Verdade & Liberdade" em que Pagu diz: "(...) Dos vinte aos trinta anos, eu tinha obedecido às ordens do Partido. Assinara declarações que me haviam sido entregues, para assinar sem ler (...). Mas, não haviam conseguido destruir a personalidade que transitoriamente submeteram. E o ideal ruiu, na Rússia, diante da infância miserável das sarjetas, os pés descalços e os olhos agudos de fome. Em Moscou, um grande hotel de luxo para os altos burocratas. Na rua, as crianças mortas de fome: era o regime comunista..." Pagu publicou os romances Parque Industrial (edição da autora, 1933), sob o pseudônimo Mara Lobo, considerado o primeiro romance proletário brasileiro, e A Famosa Revista (Americ-Edit, 1945), em colaboração com Geraldo Ferraz (1905-1979). Parque Industrial foi publicado nos Estados Unidos em tradução de K. David Jackson em 1994 pela University of Nebraska Press. Seus contos policiais, escritos àquela época sob o pseudônimo King Shelter e publicados originalmente na revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), foram reunidos em Safra Macabra (Livraria José Olympio Editora, 1998). Em 1950, já desiludida com o PCB, saiu candidata a deputada estadual pelo Partido Socialista Brasileiro, sem ter sido eleita. A essa época, publicou em edição própria Verdade & Liberdade, panfleto de propaganda política em que denuncia os totalitarismos comunista e fascista, defendendo um socialismo democrático. Em sua fase madura, como animadora cultural, revelou e traduziu grandes autores até então inéditos no Brasil como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz. Teve um trabalho marcante como incentivadora do teatro amador, especialmente em Santos, onde trabalhava no jornal A Tribuna, cuja redação era dirigida por seu marido, Geraldo Ferraz. O apelido Pagu foi-lhe dado pelo poeta modernista Raul Bopp (1898-1984), autor de Cobra Norato, que imaginou que seu nome fosse Patrícia Goulart. Ela mesma inventou muitos pseudônimos para si, como Zazá, Gim, Solange Sohl, Mara Lobo, Pat, Pit e Leonie. O cinema brasileiro já homenageou Pagu várias vezes: além de documentário de Rudá de Andrade, há o filme Eternamente Pagu, dirigido por Norma Benguell, no qual ela foi interpretada por Carla Camurati. Patrícia Galvão aparece também no filme O Homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade, e foi tema do documentário Eh, Pagu!, Eh!, de Ivo Branco. Lúcia Teixeira lembra ainda, em seu livro, que os anos de prisão, tortura e perseguição deixaram muitas marcas em Pagu, o que a levou a tentar o suicídio duas vezes — a primeira, em 1949, quando deu um tiro na cabeça, durante estada na casa do artista Flávio de Carvalho, em São Paulo; e a segunda, em setembro de 1962, quando, diagnosticada com câncer nos pulmões, foi a Paris submeter-se à cirurgia no Hospital Laennec. Com o fracasso da operação, "ao antever o sofrimento e a morte iminentes, atira no próprio peito", escreve a autora. Mais uma vez, sobreviveu. Retornou, então, para Santos, onde morreu em dezembro. ________________________ (*) Publicado no caderno cultural Dois + do jornal A Tarde, de Salvador-Bahia, dia 28/8/2010, pág.3. (**) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com. br Adelto Gonçalves |
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Mostra ibero-americana ofusca "Festa", festival teatral mais antigo do país
Agência Brasil
Publicação: 06/09/2010 17:44
Criado em 1958 pela escritora e jornalista Patrícia Galvão, a Pagu, musa do movimento modernista, o Festa é hoje o mais antigo festival de teatro do país que ocorre periodicamente. Por ele já passaram atores e dramaturgos como Plínio Marcos, Sérgio Mamberti, Aracy Balabanian, Ney Latorraca, Bete Mendes, Alexandre Borges, entre outros atores. Em 1959, José Celso Martinez Corrêa deixou a cidade com cinco prêmios concedidos no evento à peça A Incubadeira.
Até o ano passado, o Festa se limitava a levar aos palcos da cidade espetáculos encenados apenas por grupos amadores. A opção por passar a receber grupos profissionais de outras regiões do país era uma forma de voltar a atrair o público que, ao longo dos últimos anos, foi deixando de prestigiar o evento. O Mirada, contudo, acabou por obrigar os organizadores a voltar atrás, reduzir a estrutura mesmo em comparação a 2009 e focar apenas em espetáculos locais.
"O Mirada acabou ocupando todos os teatros da cidade, incluindo os públicos. Além disso, como ele está acontecendo no mesmo período do Festa, já contávamos com o fato de que acabaria centralizando a atenção do público e da imprensa. Por isso, este ano, nós decidimos reduzir a estrutura do Festa, apresentando apenas grupos locais", disse à Agência Brasil o assistente de coordenação do Festa, Leandro Borges Taveira.
Quanto à coincidência de datas, Borges atribui a responsabilidade ao "pouco caso" da prefeitura com o evento local. "Houve um mal-entendido. A prefeitura, ao que sabemos, não informou os organizadores do Mirada sobre a coincidência e a importância do Festa e não exigiu qualquer contrapartida por parte do Sesc. Mais tarde nós firmamos uma parceria com o Mirada, mas ainda achamos que o Festa não está sendo devidamente valorizado", disse Borges, admitindo, contudo, que a perda de público e de prestígio é algo que já vem ocorrendo há anos.
"O Festa vem realmente perdendo público e prestígio e por isso mesmo estamos propondo rever muitas coisas para que o festival volte a ter relevância e a revelar novos artistas. Para isso vamos precisar de maior apoio dos governos municipal e estadual e trocar a coordenação do evento".
Organizado por uma comissão eleita pela própria classe teatral santista, o Festa faz parte do calendário oficial de eventos municipais e recebe apoio financeiro da prefeitura, que neste ano alocou R$ 30 mil para a realização do festival. "É muito pouco", disse Borges, explicando que, em 2009, a realização do evento consumiu cerca de R$ 150 mil e que, em 2011, a comissão organizadora prevê um gasto de mais de R$ 1 milhão para implementar as mudanças que vem sendo discutidas para tentar recuperar o prestígio perdido.
"Estamos prevendo várias alterações. Queremos profissionalizá-lo, trazer grandes espetáculos nacionais, oferecendo a eles uma melhor estrutura, além de críticos e artistas que participarão de debates. Também estamos estudando criar uma categoria que fomente à produção local, dando, por meio de editais, uma verba para os grupos teatrais da região montarem seus espetáculos para o ano seguinte".
Por meio de sua assessoria, o Sesc informou ter participado de várias reuniões com representantes da classe artística local, esforçando-se para que fosse estabelecida uma parceria e para que os horários dos espetáculos tentassem não ser os mesmos. Disso resultou, entre outras coisas, a seleção de um grupo local (Trupe Olho da Rua). Já a data do Mirada, que começou no último dia 2 e segue até o próximo dia 11, foi definida em negociações com a prefeitura em função da disponibilidade de espaços e da agenda dos artistas convidados.
A reportagem tentou contato com a prefeitura da cidade, mas não obteve resposta.
Em cena, a vida de Pagú
Em cena, a vida de Pagu
Cruzeiro on-line
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Patrícia Galvão (1910-1962) foi poeta, cronista, artista plástica, dramaturga e militante feminista. Acima de tudo, foi uma modernista de primeira linha, mulher que incomodava pelas críticas ácidas e o comportamento irreverente. É tal figura controvertida que desponta na peça "Dos Escombros de Pagu", que estreia nesta 4ª feira (08) no Teatro Eva Hertz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073, São Paulo).
O texto é baseado no livro do mesmo título, resultado da tese de mestrado da historiadora Tereza Freire. Durante quatro anos de pesquisa, ela recuperou a vida e obra de Pagu. "Desde 1972, tenho vontade de realizar uma peça sobre essa mulher, por quem tenho grande admiração", comenta o diretor Roberto Lage, que, empolgado com o texto de Tereza, decidiu tornar viável o projeto
Para isso, contou com a atriz Renata Zhaneta, que logo aderiu à montagem. "Gosto de teatro que grita, que diz algo importante para a plateia", conta. "Foi fácil apaixonar-me e identificar-me com a história de Pagu. Temos muitas coisas em comum." Em cena, ela mostra como foi a relação da escritora com outros nomes do Modernismo. (AE)