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Trecho do livro Paixão Pagu,

  • domingo, 28 de março de 2010
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http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/110505/trecho_pagu.html

Trecho do livro Paixão Pagu,
de Patrícia Galvão

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/110505/imagens/capa_pagu.jpg

Não sei se você sabe como conheci Oswald. Ele leu coisas minhas, mostradas por Fernandinho Mendes. Teve curiosidade e quis me conhecer. Foi quase ao mesmo tempo em que conheci você. Na época do Movimento Antropofágico.

Oswald: uma liberdade maior de movimentos e mais nada. Ele não me interessou mais que outros intelectuais conhecidos naquela época. Particularmente, eu me sentia mais atraída por Bopp, que possuía mais simplicidade, menos exibicionismo e, principalmente, mais sensibilidade.

Um dia, Bopp quis beijar-me. Percebi então que havia o sexo e repeli. Lembrei- me de uma frase que Cyrillo me dissera num dia longínquo: "Quando você passa na rua, todos os homens te desejam. Você nunca despertará um sentimento puro". Bopp não insistiu. Quando sofreu o desastre de automóvel, fui visitá-lo. Falou em vida comum, muito carinho, muita amizade. Havia Mary perto. Sua companheira no momento. Não gostei de vê-lo utilizar pretextos para afastá-la. Não acreditei. Aliás, não havia nenhum sentimento profundo em mim para que eu eliminasse escrúpulos. Talvez minha falta de escrúpulos aceitasse a solução Bopp, se não houvesse outra já encaminhada, de um modo mais adequado às minhas decisões futuras. Encerrei aí meu caso com Bopp e nunca mais falamos em tal.

O meu casamento com Waldemar foi a forma planejada para que eu, de menor idade, pudesse sair de casa sem complicações. Conversando um dia com Oswald e Tarsila, falei-lhes sobre essa necessidade e eles prometeram auxiliar-me. Foi quando apareceu a sugestão Waldemar. Oswald informoume que ele se prestaria a qualquer combinação, se conseguisse com o Júlio Prestes um prêmio ou custeio de viagem. Garantiu-me também que o Júlio se interessava por mim e que faria o que lhe pedissem. Fui falar com o Júlio. Não sei como me prestei àquilo. Hoje, tudo me parece inacreditável. Mas, naquela época, não havia o menor escrúpulo. Eu me lembro que só perturbou-me a presença de Oswaldo Costa. Júlio Prestes assinou os documentos necessários, que eu levei a Waldemar com a minha proposta. Estabeleceu-se que o nosso casamento se realizaria dali a um mês. Devíamos nos separar imediatamente após o ato. Eu seguiria para o Norte e Waldemar para a Europa, depois de prepararmos a anulação. Tudo foi realizado assim. Logo que a anulação se fez, oito dias depois do meu casamento, segui para a Bahia, onde Anísio Teixeira me esperava para conseguir-me emprego. Um mês depois, quando tudo estava organizado para que eu permanecesse na Bahia, recebo um telegrama de Oswald, chamando-me com urgência, para evitar complicações na sentença de anulação de casamento. Havia também passagem comprada para o meu regresso. Eu não percebi que havia interesse maior na minha volta. E voltei.

Oswald esperava-me no Rio. Tudo tinha sido pretexto para que eu voltasse para ele. Havia deixado Tarsila. Queria viver comigo. É difícil procurar a razão das coisas, quando há vacilação. Tanta vacilação em viver. Opus resistência à união com Oswald, mas pouca. Cheguei a deixá-lo no hotel, saindo sem recursos e sem destino pelas ruas. Para que ele não me retivesse, fiz o jogo ridículo de deixá-lo fechado à chave, sem que ele percebesse. Andei até a madrugada para voltar ao hotel, aonde cheguei como um trapo.

Depois de possuir-me, Oswald me trouxe para São Paulo. Fui viver com a mãe de Lurdes, no caminho de Santo Amaro. Não era a primeira vez que Oswald tinha meu corpo. Essa entrega tinha sido feita muito antes, num dia imbecil, muito sem importância, sem o menor prazer ou emoção. Eu não amava Oswald. Só afinidades destrutivas nos ligavam. Havia, sim, um preconceito oposto aos estabelecidos. E, para não dar importância ao ato sexual, entreguei-me com indiferença, talvez um pouco amarga. Sem o compromisso da menor ligação posterior.

Quando segui para a Bahia, já estava grávida sem o saber. E, quando fui viver com Oswald, já existiam a mãe e a gratidão. Antes disso, ainda houve resistência.

Um dia, deixei a casa onde vivia. Oswaldo Costa convenceu-me a voltar. Logo depois, verifiquei o meu estado e a resistência foi vencida. Uma finalidade. Um velho sonho que tomava corpo. Uma razão para a vida. Senti que a paisagem já sorria. Como eram lindas as ameixeiras do quintal! Eu saía todas as manhãs com Lurdes. Corríamos pelos campos. Eu quis um cachorro enorme. À noite, Oswald chegava. E era muito bom conversar com ele até tarde. Comecei a ler. Nunca tinha podido ler e esse prazer novo era ainda um outro motivo de vida. E a criancinha que ia nascer.

Um dia, eu matei a criancinha. Eu nada sabia dos cuidados que meu estado exigia. Eu ansiava por movimento e naquela tarde eu me atirei no rio Pinheiros. A correnteza era muito forte. Eu não conseguia alcançar mais a margem. Uma hora de luta com as águas. A Lurdes pediu socorro. Os homens da balsa não quiseram prestar auxílio, porque o rio ali era perigoso. Quando consegui sair do rio, já noite, todo o mal estava feito. Ainda a caminhada até em casa, as dores, a roupa molhada. Fui para a maternidade. Todos os brinquedos que já havia comprado. O cadaverzinho. As crianças nascendo normalmente a meu lado. Aquela linda que a enfermeira me trouxe. Penso que odiei todas as crianças do mundo. Eu queria que aquela linda morresse. Queria ir ao cemitério. Só pude ir dez dias depois, na saída do hospital. Eu não podia andar ainda. Túmulo 17-Rua 17. Os brinquedos. Eu dei a boneca para a parteira Leonina. Depois, o desespero. Até voltar à casa dos meus pais. Mas não suportava nada. As alfinetadas do Conselho de Família. Fui passar uns dias com minha irmã. Oswald ia ver-me ali. Resolvemos mais uma comédia. Nosso casamento na igreja. Eu estava novamente grávida.

 

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