Acervo Digital Revista Veja
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Estou enviando um Link de acesso a todas as revistas Veja, editadas pela Abril nos últimos 40 anos. Da capa à contra-capa, incluindo todas as páginas.
É um trabalho impressionante e creio que servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.
A revista VEJA abre todo o seu acervo de 40 anos de existência na internet.
Todas as edições poderão ser consultadas na íntegra em formato digital no endereço: http://veja.abril.com.br/acervodigital/
A revista liberou o acervo em comemoração ao seu aniversário de 40 anos.
A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.
O sistema de navegação é similar ao da revista em papel: o usuário vai folheando as páginas digitais com os cliques do mouse.
O acervo apresenta as edições em ordem cronológica, além de contar com um sistema de buscas, que permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias.
Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.
Com investimento de R$ 3 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre a Editora Abril e a Digital Pages e levou 12 meses para ficar pronto.
Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.
O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.
Recomendem e repassem (se for o caso) aos seus filhos, familiares e amigos.
É um trabalho impressionante e creio que servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.
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Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.
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Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.
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Revista Em Debate - trecho para download
No 4 (2010)
2º semestre 2010
Sumário
Editorial
Retorno da revista EM DEBATE | PDF-A |
i-ii |
Artigos
Trabalho e ação: o debate entre Bakunin e Marx e sua contribuição para uma sociologia crítica contemporânea | PDF-A |
Andrey Cordeiro Ferreira | 1-23 |
A saúde dos trabalhadores das minas de carvão da região carbonífera de Criciúma: Uma abordagem qualitativa | PDF-A |
Douglas Gava de Bona Sartor | 24-41 |
A Revolução Russa de 1905 e os Conselhos Operários | PDF-A |
Nildo Viana | 42-58 |
Historia contemporánea y crisis capitalista | PDF-A |
Pablo Rieznik | 59-68 |
Racismo, xenofobia e inmigración en España (2000-2010) | PDF-A |
Yván Pozuelo Andrés | 69-92 |
Lutar para manter, lutar para romper: mulheres e a ditadura militar brasileira | PDF-A |
Mateus Gamba Torres | 93-105 |
A Consolidação das agências reguladoras no Brasil: breve histórico | PDF-A |
Daniel Misse | 106-126 |
Controle e disciplina na organização capitalista do trabalho. | PDF-A |
Cleito Pereira dos Santos | 127-141 |
Resenhas
O que resta da ditadura | PDF-A |
Maria Carolina Bissoto | 142-147 |
Normas para publicação
Instrução aos autores | PDF-A |
Rev. Bras. Hist. vol.30 no.59 São Paulo jun. 2010
Sumário
Rev. Bras. Hist. vol.30 no.59 São Paulo jun. 2010
Rev. Bras. Hist. vol.30 no.59 São Paulo jun. 2010
· Capistrano de Abreu, viajante Gontijo, Rebeca | |
· Fazer história, escrever a história: sobre as figurações do historiador no Brasil oitocentista Oliveira, Maria da Glória de | |
· O ofício do historiador e os índios: sobre uma querela no Império Moreira, Vânia | |
· A institucionalização dos estudos Africanos nos Estados Unidos: advento, consolidação e transformações Ferreira, Roquinaldo | |
· A teoria da história como hermenêutica da historiografia: uma interpretação de Do Império à República, de Sérgio Buarque de Holanda Assis, Arthur | |
· História do Brasil para o "belo sexo": apropriações do olhar estrangeiro para leitoras do século XIX Jinzenji, M�?nica Yumi; Galvão, Ana Maria de Oliveira | |
· Um rei indesejado: notas sobre a trajetória política de D. Ant�?nio, Prior do Crato Hermann, Jacqueline | |
· Novos elementos para a história do Banco do Brasil (1808-1829): crónica de um fracasso anunciado Cardoso, José Luís | |
· A floresta mercantil: exploração madeireira na capitania de Ilhéus no século XVIII Dias, Marcelo Henrique | |
· Subsistemas de comércio costeiros e internalização de interesses na dissolução do Império Colonial português (Santos, 1788-1822) Moura, Denise Aparecida Soares de | |
· Modernizando a repressão: a Usaid e a polícia brasileira Motta, Rodrigo Patto Sá | |
· The case for books: past, present and future Araújo, André de Melo | |
· A experiência do tempo: conceitos e narrativas na formação nacional brasileira (1813-1845) Caldas, Pedro Spinola Pereira | |
· Os índios na história do Brasil Garcia, Elisa Fr�?hauf |
Hitler e a Era da Comunicação
sábado, 5 de fevereiro de 2011
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Gerhard Bartel, aos 4 anos de idade, em foto amplamente utilizada pela Propaganda Nazista |
Falta informação no mundo da informação
Ao pesquisarmos no Youtube a expressão “14/88” encontraremos 4710 vídeos reelacionados. No Google o número sobe para assustadores 1.350.000 resultados. Mas o que isso tem a ver com informação? A famigerada “14/88” é uma ignominiosa referência ao nazismo e ao seu líder maior, Adolph Hitler. O número “14” é uma referência as 14 palavras da frase do neonazista David Lane: We must secure the existence of our people and a future for white children.
Traduzindo: Nós devemos assegurar a existência de nosso povo e o futuro das crianças brancas. O “88”, significa “HH”, já que o H é a oitava letra do alfabeto, numa referência ao famoso “Heil Hitler”. Ou seja, a internet está repleta de pessoas desinformadas e, talvez por isso, ainda seduzidas pelas idéias do louco líder alemão que matou milhares de pessoas inocentes ou indefesas, em nome de um ideal de eugenia (limpeza étnica) e supremacia da raça ariana e alemã, sobre todos os povos. Mas a pergunta permanece: o que isso tem a ver com a informação? Simples, estamos rodeados de informações por todos os lados, porém dificilmente nos aprofundamos muito nelas. Assim, as idéias de um lunático morto há mais de 70 anos, ainda são propagadas como grandes ideais a serem seguidos. Afinal, se olharmos superficialmente, Hitler foi um grande líder. Herói da primeira guerra mundial, político de ascensão meteórica, gestor que transformou uma Alemanha, em ruínas, numa das maiores potências mundiais da época e líder de um povo desiludido que passou a acreditar em seu próprio país e em seu comandante. Naquela época, a propaganda de Paul Joseph Goebbels fazia de Hitler um herói e do Partido Nacional Socialista uma esperança de dias melhores para o país. As derrotas nas batalhas, durante a II Guerra Mundial, eram maquiadas como vitórias retumbantes e transmitidas pelos rádios, insuflando o espírito nacionalista e quase ufanista do povo alemão. Nos cinemas em Berlim, somente vitórias esmagadoras sobre ingleses, franceses e poloneses. Enfim, Hitler era um pop-star para o povo alemão de 70 anos atrás. Iniciou uma tática de controle da população através da mídia e foi seguido por diversos político-ditadores-midiáticos modernos, como Vargas, ACM e Sarney, só para citar alguns. Porém, quando os meios de comunicação em massa se limitavam a uma rádio controlada pelo governo, esse controle e essa adoração ao líder do III Reich eram compreensíveis. Mas hoje é indignante. Na era da informação, com milhares de relatos das atrocidades nazistas contra judeus, negros, homossexuais, ciganos e estrangeiros em geral, é inconcebível. O pior é saber que exemplos de preconceito contra negros, homossexuais, ciganos, brasileiros nordestinos (a SS não nos conhecia, graças a Deus) tornaram-se lugar comum na internet do país “mais tolerante do mundo”. Isso sem contar os casos de preconceito religioso, que levaram praticantes da umbanda e do candomblé a se declararem “espíritas” (neologismo criado por Allan Kardec para definir os seguidores da sua doutrina codificada) para fugir das hostilidades de católicos e evangélicos. É difícil entender isso hoje, quando a maioria esmagadora dos internautas nem era nascida quando ocorreu o suicídio do covarde líder alemão. Um triste retrocesso ao “pensar-se superior a alguém”.
Nos vídeos do Youtube aparecem comemorações ao centenário de vida (sic) de Hitler, discursos inflamados e aplaudidos do homem de bigode ridículo, marcha de milhares de soldados alemães representando a força nazista, entre outras imagens editadas. Alguns “produtores” dos vídeos defendem-se afirmando ser um trabalho acadêmico, e não um ato de apologia aos crimes do holocausto. Tirando alguns épicos, como “A Lista de Schindler” e “O menino do pijama listrado”, a grande maioria dos filmes de guerra preferem ressaltar o heroísmo dos soldados e não mostrar de forma contundente os crimes de guerras cometidos por ambas as partes. Nos canais de TV aberta documentários são raríssimos. Informação é raríssima. E assim vivemos eternamente de globorepórteres sobre a fauna, flora, alimentação, saúde ou a vida e morte de algum famoso. Creio não existir pessoas más, e sim, ignorantes. Acredito que se houvesse informação de qualidade, não teríamos tantos neo-nazistas e pessoas preconceituosas em nosso país. Mas como não estamos mais na era do rádio, e o Fürer foi covarde o suficiente para se matar antes de pagar pelas suas atrocidades, recomendo o vídeo-documentário “Auschwitz: os Nazistas e a Solução Final”, produzido brilhantemente pela BBC e Londres. É rapidinho, quase o tempo de um Big Brother Brasil. São quase 50 minutos de história que não deve ser esquecida, para não ser repetida. E você não precisa votar em ninguém. Hitler já foi eliminado.
Segue link do documentário com legendas em português:http://www.youtube.com/watch?v=OWuHkPfU7SY
Um homem (e um país) em formação
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Um homem (e um país) em formação
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
Retrato a óleo de Capistrano de Abreu exposta no Instituto do Ceará. O cearense encontrou na pesquisa historiográfica seu ofício, ao qual se dedicou por mais de 40 anos
FOTO: MIGUEL PORTELA
FOTO: MIGUEL PORTELA
Ainda jovem, o cearense Capistrano de Abreu encontrou na História sua profissão, militância e sina. Dentre os historiadores da “Geração de 1870”, lançou-se sobre ele as expectativas de se ver escrita uma nova história do Brasil
26/12/2010
Em "Descobrimentos de Capistrano", o historiador carioca Daniel Mesquita se debruça sobre o pensamento do célebre Capistrano de Abreu, cearense que inaugurou métodos inovadores para a historiografia e as interpretações da construção do PaísO menino que aprendeu cantigas africanas com os escravos do sítio Columijuba, em Maranguape, ambientou-se nos costumes próprios da Casa Grande, estimulados pelo avô, Honório de Abreu. A míope e desasseada criança não tinha más notas na escola, mas não se interessava de todo pelo estudo regular. Era um leitor compulsivo, mas de outros livros. Segundo Rodolfo Teófilo, que com ele estudou no Colégio Ateneu Cearense, o menino carregava os livros aonde fosse, mesmo nas recreações promovidas mensalmente pela escola no Morro do Coroatá.
No Seminário Episcopal de Fortaleza, a instituição chegou a aconselhar o pai do garoto a levá-lo de volta para o sítio e lá dar conta de consertar sua preguiça e vadiação. Por não se enquadrar ao ensino formal, não conseguiu ser aceito na faculdade de Direito, decidindo se mudar para o Rio de Janeiro. E finalmente lá, o garoto leitor que se tornou homem feito, encontrou-se com a História e se deixou encontrar por ela, sendo mais tarde reconhecido por sua generosa contribuição ao estudo do tempo passado e ao registro da nacionalidade brasileira: o desajeitado e cegueta cearense Capistrano de Abreu.
De posse de todos os livros que quisesse, tendo passado em um concurso público para trabalhar na Biblioteca Nacional, Capistrano abraçou um tal desejo: escrever a História do Brasil, superando os muros do tradicional historiador Adolfo de Varnhagen, à época, o mais conhecido e respeitado estudioso do tema.
Colônia
Mas se Capistrano tinha mesmo essa ânsia por abarcar uma totalidade da história brasileira, porque acabou escrevendo uma história modesta, resumida em "Capítulos de História Colonial"? A ousada pergunta compõe o conjunto de questionamentos propostos pela pesquisa de doutorado do historiador Daniel Mesquita, da PUC-Rio, autor da obra "Descobrimentos de Capistrano: a História do Brasil ´a grandes traços e largas malhas´", lançado este mês pela editora Apicuri. No livro, o autor explora um Brasil e um Capistrano em latência. Objeto e pesquisador em constante transformação. Daniel contextualiza um Capistrano de Abreu testemunha de eventos cruciais para a formação nacional como a proclamação da República e a abolição da escravidão, um pesquisador que contribuiu ativamente não apenas para o registro desse País em transformação, mas para a constituição de um novo campo de saber.
Para tanto, o autor carioca faz uso de densa documentação, analisando não apenas as obras de Capistrano, mas teóricos, biógrafos e cartas enviadas pelo cearense a contemporâneos. A partir do material reunido, Daniel divide o livro em duas etapas: a elaboração de uma noção de Brasil e brasilidade por Capistrano e a formação do historiador e da historiografia como ciência.
Encontrados no Instituto Histórico e Arqueológico do Ceará, "recortes de jornais colados em papéis de punho do historiador cearense", como o próprio Daniel descreve, deram-lhe a oportunidade de perceber Capistrano dialogando consigo mesmo. É nesse sentido que o pesquisador carioca inova: por buscar a essência de um Capistrano em formação, que substituía palavras nos originais dos próprios livros, evocando significados mais aproximados do que realmente procurava dizer. Trocara, por exemplo, "unidade brasileira" por "nacionalidade brasileira", ressaltando sua intenção de traduzir o que chamou de "história íntima".
Em resumo, o pesquisador carioca declara que as ambições de Capistrano se confundem com as de todo um povo, que mesmo sem perceber ou declarar, também ansiava pelo registro de sua trajetória, pela identificação dos personagens anônimos que o precedera. "O desejo de decifrar o sentido da experiência vivida pelos homens e de oferecer à nação uma narrativa de sua gênese, dá-nos testemunho daquilo que Capistrano considerava como o sentido de realização de sua própria vida", afirma Daniel.
História do Brasil
Descobrimentos de Capistrano Daniel Mesquita
Apicuri
2010
263 páginas
R$ 48
No Seminário Episcopal de Fortaleza, a instituição chegou a aconselhar o pai do garoto a levá-lo de volta para o sítio e lá dar conta de consertar sua preguiça e vadiação. Por não se enquadrar ao ensino formal, não conseguiu ser aceito na faculdade de Direito, decidindo se mudar para o Rio de Janeiro. E finalmente lá, o garoto leitor que se tornou homem feito, encontrou-se com a História e se deixou encontrar por ela, sendo mais tarde reconhecido por sua generosa contribuição ao estudo do tempo passado e ao registro da nacionalidade brasileira: o desajeitado e cegueta cearense Capistrano de Abreu.
De posse de todos os livros que quisesse, tendo passado em um concurso público para trabalhar na Biblioteca Nacional, Capistrano abraçou um tal desejo: escrever a História do Brasil, superando os muros do tradicional historiador Adolfo de Varnhagen, à época, o mais conhecido e respeitado estudioso do tema.
Colônia
Mas se Capistrano tinha mesmo essa ânsia por abarcar uma totalidade da história brasileira, porque acabou escrevendo uma história modesta, resumida em "Capítulos de História Colonial"? A ousada pergunta compõe o conjunto de questionamentos propostos pela pesquisa de doutorado do historiador Daniel Mesquita, da PUC-Rio, autor da obra "Descobrimentos de Capistrano: a História do Brasil ´a grandes traços e largas malhas´", lançado este mês pela editora Apicuri. No livro, o autor explora um Brasil e um Capistrano em latência. Objeto e pesquisador em constante transformação. Daniel contextualiza um Capistrano de Abreu testemunha de eventos cruciais para a formação nacional como a proclamação da República e a abolição da escravidão, um pesquisador que contribuiu ativamente não apenas para o registro desse País em transformação, mas para a constituição de um novo campo de saber.
Para tanto, o autor carioca faz uso de densa documentação, analisando não apenas as obras de Capistrano, mas teóricos, biógrafos e cartas enviadas pelo cearense a contemporâneos. A partir do material reunido, Daniel divide o livro em duas etapas: a elaboração de uma noção de Brasil e brasilidade por Capistrano e a formação do historiador e da historiografia como ciência.
Encontrados no Instituto Histórico e Arqueológico do Ceará, "recortes de jornais colados em papéis de punho do historiador cearense", como o próprio Daniel descreve, deram-lhe a oportunidade de perceber Capistrano dialogando consigo mesmo. É nesse sentido que o pesquisador carioca inova: por buscar a essência de um Capistrano em formação, que substituía palavras nos originais dos próprios livros, evocando significados mais aproximados do que realmente procurava dizer. Trocara, por exemplo, "unidade brasileira" por "nacionalidade brasileira", ressaltando sua intenção de traduzir o que chamou de "história íntima".
Em resumo, o pesquisador carioca declara que as ambições de Capistrano se confundem com as de todo um povo, que mesmo sem perceber ou declarar, também ansiava pelo registro de sua trajetória, pela identificação dos personagens anônimos que o precedera. "O desejo de decifrar o sentido da experiência vivida pelos homens e de oferecer à nação uma narrativa de sua gênese, dá-nos testemunho daquilo que Capistrano considerava como o sentido de realização de sua própria vida", afirma Daniel.
História do Brasil
Descobrimentos de Capistrano Daniel Mesquita
Apicuri
2010
263 páginas
R$ 48
o Brasil mestiço
o Brasil mestiço
Fonte: Jornal Diário do Nordeste

O pesquisador Daniel Mesquita buscou nos diálogos com os antecessores de Capistrano de Abreu, em suas cartas e livros, compreender as questões que preocupavam o historiador cearense
26/12/2010
Doutor em História pela Puc-Rio e professor do Departamento de Comunicação Social na mesma universidade, Daniel Mesquita dedicou sua tese de doutorado à compreensão dos motivos pelos quais o cearense Capistrano
de Abreu desejou escrever uma história do Brasil e dos brasileiros. Em entrevista ao Caderno 3, o pesquisador comenta sobre particularidades de Capistrano e analisa as contribuições do historiador para a atualidadeO título do livro é "Descobrimentos de Capistrano: a História do Brasil a ´grandes traços e largas malhas´". Por que esta citação para definir a História do Brasil de Capistrano?
A expressão é do próprio Capistrano. Ela tem relação com sua mudança de planos sobre a escrita de uma História do Brasil. A princípio pensou em fazer uma História "seguida e completa", mas depois acabou escrevendo o livro, hoje clássico, "Capítulos de História Colonial". Capistrano não avançou pelo século XIX, limitou-se ao período colonial. Diria que os grandes traços têm relação com os temas dos capítulos e as largas malhas são relativas ao povoamento do País, sobretudo do sertão.
Na pesquisa, você teve contato não apenas com as obras do autor, mas com as cartas que ele dirigiu a seus contemporâneos. Qual a contribuição desta correspondência para compreender a construção do Capistrano historiador?
A correspondência foi fundamental por fornecer pistas de sua investigação histórica. Estão lá seus interesses, seus interlocutores. Meu interesse nas cartas foi sobretudo com relação a seus projetos intelectuais. Capistrano escreveu muitas cartas, são três volumes. Então foi preciso selecionar algumas prioridades. Diria que as correspondências com o Barão do Rio Branco e com o português Lino Assunção foram muito importantes para perceber como Capistrano ia construindo, para si mesmo, um projeto intelectual de escrever uma história do Brasil. Na verdade, a leitura dos textos e livros e das cartas são complementares.
No livro, você ressalta que Capistrano testemunhou eventos cruciais da nossa história, como a proclamação da República e a abolição da escravidão. Pode-se dizer que a vivência de tais momentos motivaram o autor ao estudo da história? Ele foi capaz de produzir uma leitura dos acontecimentos de seu tempo?
A inclinação de Capistrano para a investigação histórica pode ter relação com um contexto de mudanças pelas quais passava o País. É comum à sua geração intelectual (conhecida como geração de 1870) a vivência de um momento de crise do Império e da escravidão. Foi um momento em que muito se debatia o futuro do País e a necessidade de modernização, que atingia inclusive o campo das ideias, com a questão das ciências. Esse debate, evidente, haveria de ter impacto sobre a discussão acerca da formação da nacionalidade, uma vez que era o futuro mesmo da coletividade que se debatia: "O que queremos ser? Quem fomos até então?".
O historiador tinha certa obsessão em superar o teórico Adolfo de Varnhagen, outro dos interpretes da história brasileira. Fale-nos deste sentimento: como esse desejo de sobrepor Varnhagen contribuiu para a produção de Capistrano?
Em boa medida, Capistrano construiu sua concepção da história do Brasil a partir de um diálogo tenso com seu ilustre antecessor. Na verdade, diria mesmo que ele lutou para construir uma leitura alternativa à de Varnhagen. Para Varnhagen, a história do Brasil seria resultante da ação civilizadora da Casa de Bragança. Capistrano tende a deslocar esta ação para personagens por vezes anônimos. Seus "heróis" são conquistadores, mineiros, vaqueiros, pretos forros, índios, jesuítas que iam povoando o interior do território, formando a corrente interior, mais densa e volumosa do que o "tênue fio litorâneo", como fala Capistrano. A busca do historiador é pela pátria interior, no sentido geográfico e do sentimento de nação que ia se formando.
Além de Varnhagen, que outros autores inspiraram a obra de Capistrano de Abreu?
Varnhagen é importante para Capistrano porque, com frequência, este partia de seu antecessor. Ao mesmo tempo, começava a marcar sua diferença, elegendo o tema do povoamento, o tema do sertão, a construção do sentimento de nação. De alguma forma, acho que a admiração que Capistrano tinha por seu conterrâneo José de Alencar também tem relação com suas preocupações. Diria que a questão indígena, por exemplo, que aparece com força em Capistrano, pode ter sido inspirada pelo indianismo de Alencar. Já a forte preocupação com o território o aproxima do Barão do Rio Branco.
Como propõe em sua pesquisa, Capistrano de Abreu não penas fez evoluir as perspectivas em torno da história do Brasil, mas também os métodos historiográficos. Os modos de pesquisa desenvolvidos por ele e seu rigor podem ser considerados inovações para a disciplina?
Sim, Capistrano ficou conhecido por ter sido quem mais (e melhor) utilizou o método crítico. Uma ferramenta indispensável para o historiador moderno e que foi empregada com maestria pelo cearense. Ele chamava atenção de seus contemporâneos para a necessidade de citar as fontes, fazer o exame crítico da documentação. Chegou a repreender seu amigo Guilherme Studart por não se preocupar com a crítica, que a partir de Ranke mudava a fisionomia da História. As dimensões do pesquisador e do narrador deveriam estar juntas no mesmo espírito, para que houvesse uma historiografia digna deste nome.
Capistrano é reconhecido por sua tentativa de ler o Brasil como nação, de identificar como se constituiria o "sentimento nacional". Afinal, qual o Brasil de Capistrano de Abreu? Que nação é a nossa, segundo suas interpretações da história?
Sem dúvida uma nação mestiça. Capistrano, na verdade, identifica vários brasis. A diversidade de modos de vida têm relação com a diversidade do próprio território e das diferentes modalidades de ocupação/ atividade econômica e interação entre portugueses, índios e negros. Esta diversidade aparece em algum momento dos Capítulos com a expressão "cinco grupos etnográficos", gestados durante a história colonial. Eles são unidos pela língua e pela religião comum. A questão de Capistrano, na verdade sua dúvida, é o quanto essas diferentes realidades formam, de fato, uma nação. Para ele, superou-se o "sentimento de inferioridade" em relação à metrópole (Portugal). Mas parece que ele nutre uma dúvida sobre a força desse sentimento em relação, por exemplo, à França, Inglaterra ou Estados Unidos. "O Brasil está em evolução ou dissolução?", perguntava-se, por vezes em sua correspondência. No Brasil, disse certa vez, "produzimos para sobremesa". Qual o lugar do Brasil no concerto das nações?
No tempo presente, em que historiadores investem na formação acadêmica e o reconhecimento da atividade como, de fato, uma profissão, o pensamento de Capistrano de Abreu ainda é revisitado? Pode-se considerar que a valorização do ofício de historiador era uma luta do intelectual cearense?
Acho que sim. Numa época em que não havia sequer curso de história, Capistrano procurou, em todos os seus escritos, divulgar para seus contemporâneos, uma certa imagem do ofício de historiador. Ele mobilizou o método crítico e a história como campo do conhecimento em polêmicas publicadas na imprensa. A sua confiança na história como meio de acesso à discussão sobre a nacionalidade é algo notável, não apenas em seus livros e artigos, mas também em sua correspondência. Se não teve propriamente um engajamento político, fez de seu próprio trabalho a sua militância, pela disciplina predileta. Praticou com dedicação exemplar o ofício do historiador. E com isso passou a ser reconhecido pelos contemporâneos que, inclusive, o pressionavam para escrever uma história do Brasil.
Para Capistrano de Abreu, a escrita da História possibilitaria a formação de uma consciência nacional. Este era um dos motivos da exigência do rigor teórico e metodológico. Pensando nisto, o que você teria a dizer sobre as inúmeras ficções e biografias brasileiras baseadas em estudos históricos? Elas auxiliam a formação de uma consciência nacional ou, por vezes, desvirtuam a concepção de nossa história?
Creio que as contribuições de diversos campos são importantes, embora seja fundamental saber diferenciá-las. O historiador não tem o monopólio sobre a história. E isso não é ruim. O que pode ser problemática é a ideia de que a história escrita pelos historiadores é tradicional, que o bom é ver documentários, ler livros escritos por não historiadores porque são mais interessantes e não tem linguagem acadêmica. Acho que esse preconceito existe. Na verdade, qualquer livro de história sério, escrito por historiador ou não, pode auxiliar na construção de um pensamento sobre a História do Brasil.
Daniel Mesquita é historiador e professor da PUC-RJ.
de Abreu desejou escrever uma história do Brasil e dos brasileiros. Em entrevista ao Caderno 3, o pesquisador comenta sobre particularidades de Capistrano e analisa as contribuições do historiador para a atualidadeO título do livro é "Descobrimentos de Capistrano: a História do Brasil a ´grandes traços e largas malhas´". Por que esta citação para definir a História do Brasil de Capistrano?
A expressão é do próprio Capistrano. Ela tem relação com sua mudança de planos sobre a escrita de uma História do Brasil. A princípio pensou em fazer uma História "seguida e completa", mas depois acabou escrevendo o livro, hoje clássico, "Capítulos de História Colonial". Capistrano não avançou pelo século XIX, limitou-se ao período colonial. Diria que os grandes traços têm relação com os temas dos capítulos e as largas malhas são relativas ao povoamento do País, sobretudo do sertão.
Na pesquisa, você teve contato não apenas com as obras do autor, mas com as cartas que ele dirigiu a seus contemporâneos. Qual a contribuição desta correspondência para compreender a construção do Capistrano historiador?
A correspondência foi fundamental por fornecer pistas de sua investigação histórica. Estão lá seus interesses, seus interlocutores. Meu interesse nas cartas foi sobretudo com relação a seus projetos intelectuais. Capistrano escreveu muitas cartas, são três volumes. Então foi preciso selecionar algumas prioridades. Diria que as correspondências com o Barão do Rio Branco e com o português Lino Assunção foram muito importantes para perceber como Capistrano ia construindo, para si mesmo, um projeto intelectual de escrever uma história do Brasil. Na verdade, a leitura dos textos e livros e das cartas são complementares.
No livro, você ressalta que Capistrano testemunhou eventos cruciais da nossa história, como a proclamação da República e a abolição da escravidão. Pode-se dizer que a vivência de tais momentos motivaram o autor ao estudo da história? Ele foi capaz de produzir uma leitura dos acontecimentos de seu tempo?
A inclinação de Capistrano para a investigação histórica pode ter relação com um contexto de mudanças pelas quais passava o País. É comum à sua geração intelectual (conhecida como geração de 1870) a vivência de um momento de crise do Império e da escravidão. Foi um momento em que muito se debatia o futuro do País e a necessidade de modernização, que atingia inclusive o campo das ideias, com a questão das ciências. Esse debate, evidente, haveria de ter impacto sobre a discussão acerca da formação da nacionalidade, uma vez que era o futuro mesmo da coletividade que se debatia: "O que queremos ser? Quem fomos até então?".
O historiador tinha certa obsessão em superar o teórico Adolfo de Varnhagen, outro dos interpretes da história brasileira. Fale-nos deste sentimento: como esse desejo de sobrepor Varnhagen contribuiu para a produção de Capistrano?
Em boa medida, Capistrano construiu sua concepção da história do Brasil a partir de um diálogo tenso com seu ilustre antecessor. Na verdade, diria mesmo que ele lutou para construir uma leitura alternativa à de Varnhagen. Para Varnhagen, a história do Brasil seria resultante da ação civilizadora da Casa de Bragança. Capistrano tende a deslocar esta ação para personagens por vezes anônimos. Seus "heróis" são conquistadores, mineiros, vaqueiros, pretos forros, índios, jesuítas que iam povoando o interior do território, formando a corrente interior, mais densa e volumosa do que o "tênue fio litorâneo", como fala Capistrano. A busca do historiador é pela pátria interior, no sentido geográfico e do sentimento de nação que ia se formando.
Além de Varnhagen, que outros autores inspiraram a obra de Capistrano de Abreu?
Varnhagen é importante para Capistrano porque, com frequência, este partia de seu antecessor. Ao mesmo tempo, começava a marcar sua diferença, elegendo o tema do povoamento, o tema do sertão, a construção do sentimento de nação. De alguma forma, acho que a admiração que Capistrano tinha por seu conterrâneo José de Alencar também tem relação com suas preocupações. Diria que a questão indígena, por exemplo, que aparece com força em Capistrano, pode ter sido inspirada pelo indianismo de Alencar. Já a forte preocupação com o território o aproxima do Barão do Rio Branco.
Como propõe em sua pesquisa, Capistrano de Abreu não penas fez evoluir as perspectivas em torno da história do Brasil, mas também os métodos historiográficos. Os modos de pesquisa desenvolvidos por ele e seu rigor podem ser considerados inovações para a disciplina?
Sim, Capistrano ficou conhecido por ter sido quem mais (e melhor) utilizou o método crítico. Uma ferramenta indispensável para o historiador moderno e que foi empregada com maestria pelo cearense. Ele chamava atenção de seus contemporâneos para a necessidade de citar as fontes, fazer o exame crítico da documentação. Chegou a repreender seu amigo Guilherme Studart por não se preocupar com a crítica, que a partir de Ranke mudava a fisionomia da História. As dimensões do pesquisador e do narrador deveriam estar juntas no mesmo espírito, para que houvesse uma historiografia digna deste nome.
Capistrano é reconhecido por sua tentativa de ler o Brasil como nação, de identificar como se constituiria o "sentimento nacional". Afinal, qual o Brasil de Capistrano de Abreu? Que nação é a nossa, segundo suas interpretações da história?
Sem dúvida uma nação mestiça. Capistrano, na verdade, identifica vários brasis. A diversidade de modos de vida têm relação com a diversidade do próprio território e das diferentes modalidades de ocupação/ atividade econômica e interação entre portugueses, índios e negros. Esta diversidade aparece em algum momento dos Capítulos com a expressão "cinco grupos etnográficos", gestados durante a história colonial. Eles são unidos pela língua e pela religião comum. A questão de Capistrano, na verdade sua dúvida, é o quanto essas diferentes realidades formam, de fato, uma nação. Para ele, superou-se o "sentimento de inferioridade" em relação à metrópole (Portugal). Mas parece que ele nutre uma dúvida sobre a força desse sentimento em relação, por exemplo, à França, Inglaterra ou Estados Unidos. "O Brasil está em evolução ou dissolução?", perguntava-se, por vezes em sua correspondência. No Brasil, disse certa vez, "produzimos para sobremesa". Qual o lugar do Brasil no concerto das nações?
No tempo presente, em que historiadores investem na formação acadêmica e o reconhecimento da atividade como, de fato, uma profissão, o pensamento de Capistrano de Abreu ainda é revisitado? Pode-se considerar que a valorização do ofício de historiador era uma luta do intelectual cearense?
Acho que sim. Numa época em que não havia sequer curso de história, Capistrano procurou, em todos os seus escritos, divulgar para seus contemporâneos, uma certa imagem do ofício de historiador. Ele mobilizou o método crítico e a história como campo do conhecimento em polêmicas publicadas na imprensa. A sua confiança na história como meio de acesso à discussão sobre a nacionalidade é algo notável, não apenas em seus livros e artigos, mas também em sua correspondência. Se não teve propriamente um engajamento político, fez de seu próprio trabalho a sua militância, pela disciplina predileta. Praticou com dedicação exemplar o ofício do historiador. E com isso passou a ser reconhecido pelos contemporâneos que, inclusive, o pressionavam para escrever uma história do Brasil.
Para Capistrano de Abreu, a escrita da História possibilitaria a formação de uma consciência nacional. Este era um dos motivos da exigência do rigor teórico e metodológico. Pensando nisto, o que você teria a dizer sobre as inúmeras ficções e biografias brasileiras baseadas em estudos históricos? Elas auxiliam a formação de uma consciência nacional ou, por vezes, desvirtuam a concepção de nossa história?
Creio que as contribuições de diversos campos são importantes, embora seja fundamental saber diferenciá-las. O historiador não tem o monopólio sobre a história. E isso não é ruim. O que pode ser problemática é a ideia de que a história escrita pelos historiadores é tradicional, que o bom é ver documentários, ler livros escritos por não historiadores porque são mais interessantes e não tem linguagem acadêmica. Acho que esse preconceito existe. Na verdade, qualquer livro de história sério, escrito por historiador ou não, pode auxiliar na construção de um pensamento sobre a História do Brasil.
Daniel Mesquita é historiador e professor da PUC-RJ.
MAYARA DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA O CADERNO 3
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