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Nazismo e o cinema

Nazismo e o cinema

sábado, 22 de janeiro de 2011

A Família Alemã e o Cinema Nazista (I)



“Não ousamos
subestimar as
estratégias formais
e visuais dos filmes nazistas
, mesmo no
caso de uma das suas produções mais
inegavelmente propagandísticas”

Eric Rentschler (1)

Crescendo na Alemanha Nazista
Estimulado por um pai alcoólatra acostumado a atormentar uma esposa triste, o aprendiz de tipógrafo Heini Völker se junta a um grupo de jovens comunistas liderados por Stoppel. Durante um passeio de fim de semana, Heini logo se desencanta com seus companheiros rebeldes e abandona aquela orgia sexual e alcoólica. Escondendo-se na floresta, ele espiona um grupo da Juventude Hitlerista e assiste fascinado à cerimônia noturna deles - um interesse que não diminui mesmo depois de ser descoberto e mandado embora. Heini retorna a Berlim exultante sobre a disciplina e a ordem da Juventude Hitlerista e cantando o hino deles para sua mãe, o que leva seu pai a brigar e bater nele. Apesar disso, o garoto resolve procurar pelos jovens nazistas Fritz e Ulla. Heini se recusou a participar de um ataque comunista ao dormitório da juventude Hitlerista, mas só conseguiu conquistar a confiança dos nazistas quando denunciou o plano do bando comunista de explodir o novo albergue. (imagem acima, é assim que começa o filme, com o close de uma maça e a câmera vai se afastando. Então descobrimos que dois garotos pretendem roubar algumas. São apanhados e uma discussão acontece entre a multidão. Wilde, o comunista de plantão, fala sobre a fome e lembra à platéia que os tapas na cara que os meninos levaram do quitandeiro eram também um tapa na cara de todos eles; imagem abaixo, à direita, todos fogem antes da chegada da polícia)




Não se pode menosprezar
a técnica da propaganda
nazista sem considerar a
lógica das técnicas atuais




Confrontada por um enfurecido Stoppel e seu grupo em função da atitude do filho, a mãe não sabe como protegê-lo. Desesperada, ela decide tirar a própria vida e a do filho ligando o gás num momento em que Heini estava. A mãe morre, mas Heini acorda no hospital rodeado por um grupo da Juventude Hitlerista. Em gratidão eles lhe presenteiam com um uniforme como o deles e um espelho. Com a morte da mãe e concordância do pai ao apelo de um líder de grupo da Juventude Hitlerista, Heini se muda para um dormitório nazista. Heini trabalha a noite toda para imprimir os panfletos de uma eleição que se aproxima, insistindo em distribuí-los em seu antigo bairro, Beuselkitz. Membros do bando de Stoppel, liderados pelo perverso Wilde, ficam sabendo da presença de Heini e o perseguem pelas ruas. O grupo encontra o garoto numa feira deserta, onde Wilde esfaqueia Heini com a mesma faca uma vez cobiçada por ele. Quando seus amigos nazistas chegam, é tarde demais. Com seu último fôlego, Heini estende o braço para cima e recita as primeiras palavras da Canção da Juventude: “Nossa bandeira tremula diante de nós, ela leva...”. Surge uma bandeira do Partido Nazista e, sobre ela, homens marcham acompanhados pela música marcial. “A bandeira [significa] mais do que a morte” (“Die Fahne ist mehr als der Tod”), é a frase final (no vídeo no final do texto a frase foi traduzida ligeiramente diferente para o espanhol).

Cinema e Engenharia Emocional




Transformar pessoas medíocres em mártires
parece ser uma vocação
torta do audio visual




Mocidade Heróica
(Hitler Youth Quex: Ein Film vom Opfergeist der deutschen Jugend, direção Hans Steinhoff, 1933) foi o primeiro filme com substancial apoio do Partido Nacional Socialista de Adolf Hitler – que subiria ao poder naquele ano. Simpatizante do nazismo, com o sucesso do filme Steinhoff se tornaria figura importante na produção de peças cinematográficas para a Juventude Hitlerista, como A Marcha Para o Führer (Der Marsch zum Führer, 1939) (2). Mocidade Heróica foi produzido sob os auspícios de Baldur von Schirach, líder da Juventude Hitlerista. Nas palavras de Eric Rentschler, o filme santifica um feito heróico adolescente, remodelando o corpo morto do garoto e fazendo dele um ícone. Ao tornar-se Ministro da Propaganda de Hitler em 1933, Josef Goebbels reconheceu o potencial do cinema como instrumento político. Parafraseando Goebbels, Rentschler afirma que as idéias políticas devem assumir “formas estéticas”... Quer dizer, nada de paradas militares e espetáculos de bandeiras, emblemas e tropas. Mas isso não quer dizer que Goebbels acreditava na “arte pele arte”. Muito pelo contrário, achava poderia “livrar” o cinema disso, assim como do liberalismo intelectual e do comercialismo libertino. Seu ataque ao cinema alemão da República de Weimar (aquele de F.W. Murnau e Fritz Lang, entre outros) era uma extensão da campanha contra a “arte degenerada”. Mera lealdade ao Partido, Goebbels advertiu, não é garantia de sucesso. A autêntica arte cinematográfica deve transcender o cotidiano e “intensificar a vida” (3).




Essa lógica mórbida de manipulação das massas
foi banida da indústria do cinema e da televisão?





Na opinião de Rentschler, intensificar a vida é o que fez Mocidade Heróica. O filme parte de um sujeito humano e o transforma na propriedade de um partido político. A mídia de massa re-configurando um destino real. Herbert Norkus, membro da Juventude Hitlerista no bairro de classe operária de Beuselkietz, em Berlim, morreu nas mãos de assaltantes comunistas enquanto distribuía panfletos durante as eleições de janeiro de 1932. Rapidamente transformado num mártir, Norkus tornou-se o tema de editoriais apaixonados e mensagens públicas inspiradas. Eventos comemorativos em sua honra ocasionaram elaboradas marchas e comemorações por toda a Alemanha. Sua morte recebia uma benção anual em 24 de janeiro, uma data de ritual durante o Terceiro Reich pelos integrantes da Juventude Hitlerista caídos. Karl Aloys Schenzinger imortalizou Norkus em Der Hitlerjunge Quex, um romance escrito entre maio e setembro de 1932 e pré-publicado em capítulos no Völkicher Beobachter, o jornal do Partido Nazista – sendo lançado em dezembro, posteriormente Schenzinger trabalharia também no roteiro do filme. O livro se tornou leitura obrigatória da juventude alemã (4). (imagem acima, à esquerda, Heini e sua mãe; acima, à direita, ela é agredida pelo marido porque ele não encontra dinheiro. Heini, que acabara de ganhar uma gorjeta no trabalho, coloca na mão dela sem o pai perceber. Ela estende a mão e dá para o pai. Heini salvou a mãe de levar uma surra; abaixo, à esquerda, Heini estava cantando a música da Juventude Hitlerista para a mãe, o pai escuta e, dando vários tapas na cara dele, obriga o menino a cantar a Internacional Comunista)

Minha Luta Pela Mocidade


Hitler, “dono” da
Aleman
ha durante
alguns anos
, foi um “pai
da pátria” diferente
. Ele queria construir um país
aonde haveria filhos
sem experiência da
figura paterna



Não é difícil imaginar Adolf Hitler assumindo o posto de pai dos alemães, especialmente se você nasceu num país onde o “pai da pátria” e/ou “salvador da pátria” é uma figura recorrente na política. Entretanto, para o historiador do cinema Thomas Elsaesser, Hitler não apenas não era um Pai, como tratou de destruir a figura paterna – e a materna também. “Sua” Juventude Hitlerista foi, antes de qualquer coisa, uma maneira de produzir uma sociedade capaz de se reproduzir sem pais. Em 1943, o antropólogo Gregory Bateson realizou uma análise de Mocidade Heróica. Ele explica que no primeiro capítulo de Minha Luta (Mein Kampf), a autobiografia de Hitler, o chanceler alemão mostra como venceu a luta contra seu pai e se tornou um Líder da Juventude, ao invés de um burocrata responsável e pai de uma família – supondo, é claro, que se possa dar alguma credibilidade ao livro. Para que Heini fizesse parte da Juventude Comunista Internacional, Stoppel pediu uma autorização por escrito do pai. Posteriormente, o pai simplesmente entregaria Heini para os nazistas. Numa conversa com Heini, o pai fala da situação ruim do país e do desemprego, insiste que os jovens devem ajudar os mais velhos. A Juventude Hitlerista, ao contrário, incentivava o desprezo por tudo que era velho – exceto, é claro, Hitler e todos os adultos que comandavam a Alemanha.


Durante toda a
Mocidade Heróica
,
a música da Juventude
Hitlerista é repetida
ad nauseum



Bateson ressaltou que se almejamos descobrir como Hitler constrói um nazista fanático temos que atentar para a maneira como a propaganda nazista representava a família alemã – como fizeram para que a Juventude fosse infinitamente desejável, e que espécie de amor eles tinham como modelo quando partiram para construir uma população de garotos apaixonados pela morte. A análise de Bateson parte desta questão: Como o amor e ódio no interior de uma família alemã genérica são invocados e rearranjados pelos propagandistas para fazer as pessoas apoiarem o nazismo? A caracterização das ações do pai de Heini (o Pai Alemão) mistura dependência infantil e violência dominadora (em relação à esposa). A atitude de Heini em relação à mae é o oposto da do pai. O filho é o herói que se sacrifica para salvar a mãe da violência do pai – como na cena do pai quebrando os móveis em busca do dinheiro que acredita que a esposa não pretende dar para ele. Heini chega e coloca uma moeda na mão dela discretamente, dinheiro que havia acabado de ganhar com seu trabalho de aprendiz na tipografia. Na opinião de Bateson, os propagandistas pretendiam que a platéia transferisse a atitude de Heini para o Nacional Socialismo. (acima, à direita, Heini está no hospital, ele sobreviveu ao envenenamento por gás. Sua mãe está morta e, durante uma visita ao menino, seu pai e o nazista Kass se encontram. Kass demonstra certo interesse pedófilo por meninos e depois faz considerações políticas contra os comunistas ao se referir à "nossa Alemanha". Já que não tem como sustentar o filho, o pai acaba permitindo que Heini se mude para o dormitório da Juventude Hitlerista)


Josef Goebbels
, o Ministro
da Propaganda de Hitler
, detestava todos os filmes
com um conteúdo político explícito
. Ele apostava nos filmes de entretenimento




Mas o filme também tem de mostrar que o amor da mãe por Heini não pode ser completo porque ela é a esposa do pai e deve ser leal a ele. Assim, o filme deve fazer o nazismo receber o auto-sacrifício de Heini. O menino é levado a contrastar nazismo e comunismo. A cena da estação ferroviária mostra os jovens nazistas uniformizados, disciplinados e felizes, enquanto os jovens comunistas (grupo do qual Heini ainda faz parte por insistência do pai) são irônicos e mal arrumados. Quando Heini volta da floresta, conta para a mãe como o acampamento da Juventude Hitlerista o impressionou e começa a cantar a música deles (originalmente ele havia ido para a floresta com o grupo de comunistas, mas afastou-se devido ao clima de bordel). O pai escuta, briga e bate no menino, obrigando-o a cantar a música da Internacional Comunista. É preciso esclarecer que naquela época de crise econômica e caos institucional havia um vácuo de poder na Alemanha. Além do mais, o discurso comunista era bastante convincente numa sociedade onde muitos milhões não tinham nada e alguns poucos industriais, banqueiros e aristocratas tinham tudo e compravam todo mundo. Segundo Bateson, o comportamento do pai empurra a platéia para longe do comunismo (e do pai) e na direção do nazismo. (acima, à equerda, a mãe de Heini)



[youtube http://www.youtube.com/watch?v=ds6hSK8bq4I]

Vale lembrar que nos últimos dias da guerra Hitler tentou um acordo com as potências aliadas para lutarem juntos contra os soviéticos. A própria análise de Bateson deve ser avaliada com cuidado, já que foi realizada nos Estados Unidos durante uma época em que esse governo (e Hollywood) se esforçava por colocar a opinião pública a favor dos soviéticos. É digna de nota a máquina de propaganda norte-americana: Missão em Moscou (Mission to Moscow, direção de Michael Curtiz, 1943), enaltecia Stalin e demonizava Trostski. O objetivo principal era neutralizar as reservas da opinião pública norte-americana em relação a um país que havia feito uma revolução comunista combatida pelo próprio Congresso norte-americano. Portanto, propaganda por propaganda, tudo parece ser “quem manda”! (Partidos Políticos, governos, fábricas de cereja, etc, etc, etc.). Durante a guerra os soldados soviéticos eram chamados de patriotas, assim que ela termina passaram a ser retratados como nazistas. Em suma, Missão em Moscou é um filme norte-americano de propaganda, tão grosseiro quanto Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die, direção do imigrante alemão Fritz Lang, com roteiro de um tal de Bertold Brecht, 1943). Era com filmes grosseiros assim que o governo norte-americano queria fazer seu público acreditar que os nazistas só seriam capazes de produzir peças de propaganda esdrúxulas.

O Que é Um Rebelde Hoje?



“O Estad
o Nacional
Sociali
sta definitiva e deliberadamente faz do
cinema um transmissor
de sua ideologia”





Mocidade Heróica
gira em torno de um drama familiar, tendo como pano de fundo a crise econômica e política do final da República de Weimar. A mesma receita de outros dois filmes empenhados em fabricar mártires nazistas, SA-Mann Brand (também conhecido como Storm Trooper Brand;S.A.-Mann Brand - Ein Lebensbild aus unseren Tagen, direção Franz Seitz, 1933) e Hans Westmar (Direção Franz Wenzler, 1933). Heini Völker encarnou Herbert Norkus, “Völker” é um servo do Povo (Volk), o herói que responde ao chamado de uma missão histórica. Um dado que a imprensa da época ressaltou é que Heini se assemelha ao fervor da juventude alemã que tombou no início da I Guerra Mundial. De forma a aumentar o impacto ficcional de Mocidade Heróica, foi suprimido o nome do integrante da Juventude Hitlerista de atuou como Heini. Assim procedendo, explica Rentschler, tanto na narrativa quanto na vida (do ator), o filme despersonaliza o protagonista em prol de uma causa maior. Rentschler ressalta em alguns aspectos a semelhança entre Mocidade Heróica e os roteiros expressionistas das peças deWandlungsdramen (dramas de conversão) de Ernst Toller, Georg Kaiser e Ernst Barlach, onde filhos irados se rebelam contra a tradição, confrontando e até assassinando seus pais, abandonando a família burguesa em busca de laços comunais mais gratificantes. (imagem acima, à esquerda, Wilde e Stoppel está na barraca de tiro ao alvo mirando em bonecos nazistas quando Wilde diz que está atirando em Heini. O menino caiu em desgraça com os comunistas quando avisou os nazistas de um plano para explodir um local da Juventude Hitlerista; abaixo, à direita, Stoppel segue Heini e lhe faz ameaças)





Institucionalização
da revo
lta edipiana na indústria do cinema?






Mocidade Heróica
coloca um herói em movimento habitando sua pessoa, dissolvendo sua família e seqüestrando sua vida. Heini se torna parte de um todo maior e, assim, será toda a sua existência como uma parte. Ele funciona como um modelo para seus camaradas, para os muitos jovens alemães que assistiram ao filme. O cinema assumiria um papel chave no interior das instituições da disciplina, surgindo como uma forma de educação, treino militar e recreação. Discursando para professores em 1934, o nazista Bernhard Rust, o Ministro da Educação, afirmou que o cinema pode auxiliar os alunos a compreender a história da Alemanha e seus problemas: “O Estado Nacional Socialista definitiva e deliberadamente faz do cinema um transmissor de sua ideologia”. O Partido promoveu, nas palavras de Rentschler, uma institucionalização da revolta edipiana ao direcionar os jovens contra a casa dos pais, a Igreja, a escola e outros modelos tidos como ultrapassados. Em suas organizações para a juventude, o Partido Nazista assumiu uma função central na rebelião dos filhos contra os pais (5).



[youtube http://www.youtube.com/watch?v=qJdisa4sOtw]

Notas:

source: http://cinemaeuropeu.blogspot.com/2011/01/familia-alema-e-o-cinema-nazista-i.html
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Comemoração do Ano 223

Comemoração do Ano 223

terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Comemorações do ano 223 (2011)
Tipo*
Vida
CALENDÁRIOS
Wikipédia**
Positivista
júlio-gregoriano
Antonino Pio
86-161
25.César
17.maio
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonino_Pio
FRANCIS BACON
1561-1626
14.Descartes
21.outubro
http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon
Henry Briggs
1561-1631
4.Gutenberg
16.agosto
http://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Briggs_(mathematician)
Defoe
1661-1731
6.Dante
21.julho
http://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Defoe
John Dollond
1706-1761
11.Gutenberg
23.agosto
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Dollond
Quinto Ênio
239-169
22.Homero
19.fevereiro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quinto_%C3%8Anio
GUTENBERG
1400-1661

13.agosto-9.setembro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg
DAVID HUME
1711-1776
28.Descartes
4.novembro
http://pt.wikipedia.org/wiki/David_hume
São Leão o Grande
390-461
15.Carlos Magno
2.julho
http://en.wikipedia.org/wiki/Pope_Leo_I
Mazzarino
1602-1661
17.Frederico
21.novembro
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mazarino
Plínio o Moço
61-116
18.Aristóteles
15.março
http://fr.wikipedia.org/wiki/Pline_le_Jeune
Samuel Richardson
1689-1761
20.Shakespeare
29.setembro
http://en.wikipedia.org/wiki/Samuel_Richardson
Tácito
61-120
20.Aristóteles
17.março
http://fr.wikipedia.org/wiki/Tacite
FONTE: “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos.
NOTAS:
  1. Os nomes em itálico indicam os tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.
  2. Os nomes em letras maiúsculas indicam chefes de semana ou de mês.
  3. As datas de vida reproduzem as indicadas por Miguel Lemos no “Apêndice” ao Apelo aos consevadores; algumas delas podem ter sofrido correção desde 1899, a partir de pesquisas historiográficas.
  4. Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (francês e inglês, mas também espanhol e italiano).


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Comemorações e Selos

Comemorações e Selos

Comemorações e selos

O ser humano é um ser social, histórico e simbólico: isso significa que só pode viver em sociedade, cujos resultados acumulam-se ao longo do tempo e que têm importância material e também cultural. Assim, como dizem, “recordar é viver”: nossas famílias, nossos concidadãos, os grandes nomes da Humanidade.

Os selos postais foram inventados no século XIX para facilitar as trocas comerciais e epistolares; começaram indicando apenas os valores monetários e logo passaram a homenagear valores, pessoas, datas e invenções: essa foi uma forma simples, barata e popular de cada país realizar sua historicidade.

O Brasil não é exceção e tem uma programação anual de selos oficiais comemorativos, lançados pela Empresa de Correios e Telégrafos, em comissão do Ministério das Comunicações. Não apenas figuras nacionais já foram homenageadas – o inventor Santos Dumont ou o time Corinthians, por exemplo –, mas também personagens mais distantes no tempo e no espaço – como o infante Dom Henrique, príncipe português do século XV que favoreceu as grandes navegações, e Santa Clara de Assis, companheira de São Francisco. Ao fazê-lo, os Correios e o Ministério das Comunicações realizam obra cultural importante, de amplo alcance humano.

Desde 2005, todavia, o Ministério das Comunicações do Brasil estabeleceu que, nos selos referentes a pessoas, somente se pode comemorar o nascimento, nunca a morte dos indivíduos. Na verdade, o item V.II da Portaria 500/2005 estabelece que “Selo homenageando personalidade deverá ser emitido, preferencialmente, no aniversário de nascimento do homenageado, evitando-se referência à data fúnebre”. Como já tive ocasião de comprovar, o “preferencialmente” é tomado ao pé da letra e lido como “unicamente”.

Essa decisão, tão simples, é tola, ingênua e contraproducente. Recusar a “referência à data fúnebre” parece medida de grande humanismo, mas é apenas demagogia barata, adotando a visão simplista e piegas (por sugestão de “marqueteiros”?) de que a morte é “ruim” e, como tal, deve ser “evitada”.

Assim, a questão que se apresenta é ao mesmo tempo bastante filosófica e de interesse público: o que é mais importante homenagear, o nascimento ou o falecimento? Ora, é evidente que todos os indivíduos que vivem ou viveram nasceram em algum momento; isso é algo para comemorar-se, sem dúvida. Mas um nascimento é apenas uma promessa, uma grande esperança, que pode realizar-se ou pode frustrar-se. A todo instante vemos pessoas que tinham “tudo para dar certo” mas que erraram e falharam, ou cujas decisões foram desastrosas; vemos políticos, artistas, pensadores, industriais e cidadãos comuns cujos comportamentos conduziram ao desastre não apenas as próprias vidas como as vidas dos demais indivíduos. Ou, inversamente, pessoas cujos nascimentos não prenunciavam muito mas cujas vidas foram plenas de significação e realizações.

Em outras palavras, avaliar de fato a vida de cada um só é possível no final dela, freqüentemente após vários anos (mesmo décadas ou séculos) do falecimento. Definir se alguém merece alguma forma de homenagem – com selo, estátua, nome de ruas, avenida, museu, cidade etc. – só é possível após o falecimento.

Essa perspectiva não guarda relações com a visão macabra sugerida pela Portaria do Ministério das Comunicações; em vez de centrar-se em indivíduos que vivem em si e para si, comemorar as datas dos falecimentos é afirmar que o ser humano é social, histórico e simbólico, isto é, que vive para os outros e nos outros e que, quando sua vida realmente valeu a pena, merece ser eternizada, inclusivamente nos pequenos adesivos que facilitam as comunicações humanas.

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Postado por Gustavo Biscaia de Lacerda no Filosofia Social e Positivismo em 1/08/2011 11:02:00 PM
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Benfeitorias que temos graças ao nazistas

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Ok, ninguém gosta dos nazistas. Eles mataram judeus covardemente, mergulharam o mundo em caos, infernizaram vários grupos raciais e de quebra tinham relações fortes com a Igreja.

Pelo menos tinham bom gosto na hora de se vestir

Coisas que só surgiram graças a Guerra.

Sério, graças a Guerra.


Benfeitoria #1. Meia-calça de Nylon


Sim, mulheres, vocês devem essa aos malucos que iniciaram a 2ª Guerra.

Lá pelos idos de 1940 a única meia-calça disponível era a meia-calça de seda. E a única seda decente era do Japão. Bom, parece que Japão e EUA estavam em lados opostos, e a mulherada americana ficou sem meia-calça de seda.

E, diabos, ninguém imaginava que isso era EXTREMAMENTE importante pra elas.

hmm, entendi

Sem meias-calça, as donas de casa americanas surtaram. Imagine uma TPM coletiva exatamente na mesma época em que está explodindo uma tal de 2ª Guerra Mundial.

Multiplique por milhões e perceba quão inofensiva é uma bomba atômica

Felizmente eis que surge um herói.

O CEO da DuPont decidiu que aguentar Hitler e seu genocídio tudo bem, mas aguentar a patroa histérica todo santo dia por causa de meia-calça era demais. Dado o exposto, a DuPont iniciou pesquisas com seus melhores químicos e físicos da época (brincadeira, os melhores estavam ocupados com a bomba atômica) e criaram um novo polímero, e disso nasceu o Nylon e a meia-calça de Nylon.

Pronto! Com essa magnifica invenção na hora certa, as mulheres teriam de volta as ditas meias-calça pra não mostrarem as gambitas por ai.

Que nada.

Duas semanas depois o governo decidiu que todo Nylon disponível seria utilizado na fabricação de pára-quedas.

... e o caos voltou a imperar


Benfeitoria #2. Campanha Anti-tabagismo


Por essa você não esperava, e eu não te contei metade da história ainda. A primeira campanha anti-tabagismo não nasceu apenas na 2ª Guerra.

A primeira campanha anti-tabagismo foi idéia ÚNICA e EXCLUSIVA dos NAZISTAS!

“O quê? Tá de sacanagem”

Sério.

Os médicos nazistas quando não estavam inventando maneiras criativas de torturar judeus, se dedicavam a pesquisar os malefícios do cigarro.

Eles foram os primeiros a descobrir uma relação de causa entre tabaco e câncer nos pulmões. Claro que o objetivo das pesquisas tinha a ver com a purificação da raça ariana.

Fato é que levantada a bola de que tabaco e câncer de pulmão andavam juntos, os nazistas iniciaram campanhas anti-tabagismo.

Mas se eles eram os nazistas, por que não proibiram de vez o cigarro na Alemanha?

Eles proibiram o cigarro em ônibus, trens e nos bondinhos. Também racionaram cigarros e tabaco aos soldados.


Não pro Landa, é claro. O Landa era foda

Talvez os produtores de cigarro tivessem financiado a subida de Hitler ao poder, ou talvez os nazistas não eram tão FDPs assim (tô zoando, eram sim). Fato é que o cigarro não foi proibido de ser vendido, mas o povo foi educado sobre seus malefícios.



Benfeitoria #3. Aulas de História mais divertidas


Aulas de História sobre civilizações e guerras antigas são chatas. Ponto.
As guerras do tempos de Anibal e Alexandre O Grande definitivamente devem ter sido épicas, mas e dai? A acurácia dos documentos e a quantidade não são lá grande coisa, tanto que...
acharam sensato chamar a porra do Colin Farrell pro filme

Os documentos, artefatos, relatos e etc. nos dão uma boa noção de como Anibal estraçalhava seus inimigos, como eram as orgias de Calígula e como Cleópatra entrou pra História como meretriz maior da Antiguidade.
Mas acontece que a 2ª Guerra Mundial pode não ter sido tão divertida quanto as orgias de Calígula (principalmente se você era judeu), mas a documentação histórica é abundante e precisa.
A 2ª Guerra é o fato histórico importante mais bem documentado que existe. E isso torna as aulas de História sobre o assunto muito mais legais e interessantes.
Somos fúteis e temos déficit de atenção — isso explica o sucesso dos sites de fofocas sobre celebridades — e por isso não adianta nos falar sobre o Dia D. Ok, legal, os caras invadiram a Normandia, deram um cacete nos nazistas, recuperaram a França e... Ahhhh, dane-se!
Isso não prende nossa atenção.
Saber que os caras da SS usavam anéis com caveiras é fútil... e chama nossa atenção.

Saber que Stalin mandava os soldados treinarem cachorros pra correrem atrás de tanques Nazistas não é interessante. Interessante é saber que eles amarravam bombas nesses cachorros e quando os pobres coitados chegavam perto dos tanques... CABUM!
Isso prende nossa atenção.
“Operation Valkyrie is in effect” é meu bordão quando tenho problemas difíceis a resolver

Porque gostamos desses caprichos bobos.
Não fosse a 2ª Guerra passaríamos mais e mais horas estudando chatices das civilizações antigas. E se minha lógica estivesse errada, então por que diabos alguns malucos inventaram a história de que ETs construíram as pirâmides?

Benfeitoria #4. Panela Teflon


A invenção que garante a sobrevivência de milhões de mascates e de pessoas com habilidades culinárias limitadas.
Foto: Habilidade culinária limitada

Tudo começou com um químico chamado Roy Plunkett que tentava fazer experiências com gases para refrigeração até que, pra variar, como quase nunca acontece no mundo da Ciência, por acaso uma substância pegajosa se formou, só que o detalhe é que ela não grudava em nada.
Feliz com sua invenção que era o oposto das malditas músicas axé, Roy Plunkett achou que o exército poderia se interessar naquilo.
Afinal de contas se não tem pra quem vender, venda pro exército americano

E eles se interessaram.
Como os EUA estavam lidando com uma tal de bomba atômica, algo que, acredito eu, necessite de material radioativo, eles acharam boa idéia criar tubos por onde esse material radioativo passasse sem que esse material ficasse grudado.
Porque na época as pessoas se preocupavam com segurança no trabalho

Com o fim da 2ª Guerra e a falta de disposição de Rússia e EUA em elevarem o nível da Guerra Fria pra uma guerra de verdade, eis que Roy precisou achar outras bandas pra vender seu teflon.
E numa dessas bandas sua empresa criou o adesivo que reveste as nossas conhecidas panelas de teflon, que permitem a idiotas como eu fritarem ovos dignos de gourmet shit.

Fonte: Dr. Gap
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Crônicas de um médico no III Reich

Crônicas de um médico no III Reich

Crônicas de um médico no III Reich - Parte I: Kishinev

"Estou morto. Provavelmente isso é tudo que aqueles dois oficiais nazistas precisariam saber, além de proferir imprecações sobre como remover meu corpo dali e limpar toda aquela sujeira. Decisões que tomei em minha vida me levaram a morrer dessa forma estúpida, decisões das quais me arrependo. Bom, vou começar do começo.
Região dos pogroms
Meu nome é(ou costumava ser...) Mordechai ben Eliezer, sou de família judia russa, nascido em Kishinev(1), Sul da Rússia. Ser judeu nessa região do Império russo no final do século XIX e início do XX definitivamente não era um bom negócio. A política czarista era abertamente anti-semita, seja através dos pogroms que estavam acontecendo desde 1881, até a falsificação e publicação dos famigerados "Protocolos dos Sábios de Sião"(2). O Governo apoiava essa política com dois objetivos principais: diminuir drasticamente a população judia o mais rápido possível e desviar o ódio popular, principalmente camponês, a fim de controlar a onda revolucionária que desembocaria, em 1917, na Revolução Comunista.
Barbárie...
Pogrom significa, em russo, "tempestade" ou destruição", o termo se encaixa perfeitamente nesse tipo de ação, provavelmente governamental, que foi lançada sobre a população judia, de saques, assassinatos e outras selvagerias indizíveis, desde que o czar Alexandre II faleceu e o novo czar, Alexandre III assumiu o poder. Este cancelou várias regalias dadas aos judeus, que tinham levado a região a um grande crescimento econômico anos antes, e iniciou a perseguição através da figura de Pobedonostzev, um reacionário ultra nacionalista, procurador do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa. Os pogroms já aconteciam desde 1881, mas meu pai, que era dono de uma loja de secos e molhados na cidade, achava que nunca nada atingiria sua família. Levávamos uma vida confortável pra os padrões da época, minhas duas irmãs e minha mãe trabalhavam com meu pai, eu era muito pequeno naquele fatídico ano de 1903. Sob o domínio russo, a cidade tornara-se um ativo centro comercial e industrial, atraindo judeus de outras partes da Rússia, em busca de trabalho.
Judeu espancado em Kishinev
A merda toda teve início em fevereiro daquele ano, depois da morte de um menino cristão chamado Michael Ribalenko. Mesmo com a suspeita de que tinha sido um parente seu o autor do assassinato, comprovado mais tarde, o filho da puta do chefe de polícia local começou a espalhar o boato de que tinham sido os "judeus". Foi orquestrada nos jornais uma campanha de difamação sem precedentes, até que o estopim da violência foi forjado: o suicídio de uma jovem cristã, paciente de um hospital da cidade. Claro que tanto o assassinato quanto o suicídio nada tinham a ver conosco, mas isso só veio a público depois do início das ações.
Refugiados dos Pogroms
Às vésperas da Páscoa, o inevitável aconteceu. Primeiro de forma isolada, alguns espancamentos ou estupros, até a generalização do massacre. Meu pai, no decorrer de algum tempo, tinha escondido no porão da casa a maior parte de sua riqueza e isso foi nossa salvação. Ele chegou em casa com um olhar vidrado, vazio, ordenando à minha mãe que juntasse o maior número de pertences possível, estávamos fugindo para Varsóvia, Polônia, onde ele tinha alguns parentes. Minha mãe então perguntou, já pressentindo a desgraça, onde estavam minhas irmãs. Meu pai parecia um alucinado, juntando dinheiro, jóias, menorahs(3), então minha mãe entendeu o que tinha acontecido com elas. Não sei onde ela achou forças para a fuga, somente muito tempo depois, longe dali, eles desabariam em choro convulsivo e prestariam as homenagens fúnebres às minhas irmãs. Minha mãe nunca mais quis saber o que tinha acontecido, mas eu sim: foram estupradas e mortas em plena rua, enquanto a loja do meu pai era saqueada e destruída.
Uma parte do dinheiro de meu pai foi entregue ao chefe de polícia, para que ele fizesse vista grossa sobre nossa fuga, o que fez com que fugíssemos com poucos pertences mais objetos de uso pessoal e religioso. Tudo isso meu pai me contou em detalhes, em Varsóvia. Meus pais vieram a falecer alguns anos depois, acho que de desgosto, deixando grande parte de minha criação a cargo de um primo. Tinha resolvido adotar um nome não judeu, pois a Polônia era também em grande parte anti-semita e eu seguia carreira no exército como oficial médico especializado em cirurgia, me sentia obviamente muito mais polonês que russo. Não tinha sequer conhecido minha pátria natal.(CONTINUA) Notas do autor: (1) Durante o séc XIX, Kishinev era capital da Bessarábia. Atualmente é capital da República da Moldávia, parte da ex União Soviética. (2) Texto, surgido, originalmente, em idioma russo, supostamente alega-se terem sido forjados em 1897 pela Okhrana (polícia secreta do Czar Nicolau II), que descrevia um projeto de conspiração para que os judeus atingissem a dominação mundial.
Menorah

Crônicas de um médico no III Reich - Parte II: Varsóvia

Marcha alemã da vitória em 1939
"Durante muitos séculos, foi disseminado o ódio na Europa. Um ódio baseado em calúnias e infâmia, muito por instituições que pregam o amor e a tolerância como preceitos. O ódio ao povo judeu tem raízes profundas, na morte do Messias cristão, foi mantido por razões as mais diversas, e mais uma vez, naqueles anos lamentáveis, cobrou seu preço. A visão e objetivos de Adolf Hitler, do bem escrito "Mein Kampf", não era somente da criação de um Império econômico da sua Alemanaha. Passava também pela extinção de todo um povo, baseado em preconceito per se. Este preâmbulo nos leva diretamente ao ano de 1939. Meu país tinha sido invadido, de maneira rápida e avassaladora, a blitzkrieg(1) em sua melhor forma. Era a repaginação da história bíblica de Davi e Golias, soldados mal treinados contra máquinas de guerra, Panzers contra cavalos, aeronáutica mortífera contra nada.
O Gueto
Varsóvia 1940. Logo após a vitória, fácil e previsível, a Alemanha através de seu Governo Central começou a planejar o isolamento do povo judeu em guetos. A Judenrat(2) tinha conseguido atrasar a construção de um em Varsóvia, muito pelo argumento de utilizar o meu povo como mão de obra escrava. Em 16 de Outubro de 1940 foi criado e murado finalmente o Gueto. Era um verdadeiro depósito de vidas humanas, tinha uma população de 400.000 judeus num espaço exíguo, onde normalmente caberiam 60.000 pessoas. A vida lá dentro era muito dura, a ração de alimento para os judeus era mais de 10 vezes menor que a oferecida aos alemães da cidade. Mesmo assim, por um tempo, a Judenratconseguiu continuar com alguma atividade cultural e escolar.
Fuga durante o Levante do Gueto de Varsóvia
Eu era já oficial médico do exército, que através da proteção de colegas fiéis, tinha escapado do gueto. Usava nome não judeu e participava como colaboracionista do exercito invasor, minha primeira decisão equivocada. Que merda, eu deveria ter acabado com aquela farsa ali mesmo, mas meu amor à vida e minha covardia tinham impedido. Eu era um fraco, um omisso... Além disso, era muito útil ao invasor pelas minhas habilidades médicas, era cirurgião laureado e Professor titular da Universidade local, autor de trabalhos e inventor de técnicas cirúrgicas arrojadas. Isso me levou ao clímax de minha história, num lugar chamado Aushwitz, mas isso é pra depois...
Himmler em 1943
Ainda em 1940 a resistência judaica começou a se formar, talvez o único lugar do território ocupado. E foi só 2 anos depois que se formou o primeiro grupo de combate, mais ou menos na mesma época em que iniciou o que se denominou depois de Levante do Gueto. Os líderes, chefiados por um jovem de 24 anos chamado Anilevitch, fizeram o seguinte apelo: "Declaramos guerra à Alemanha, a declaração de guerra mais desesperada que já foi feita. Organizamos a defesa do gueto, não para que o gueto possa defender-se, mas para que o mundo veja nossa luta desesperada como uma advertência e uma crítica." Um dia, já em 1943, o próprio Himmler(3) em pessoa visitou o gueto de surpresa. Cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Me pareceu extremamente metódico, um amor incondicional à causa do Führer, um zelo invejável no cumprimento de dever. Essas características o colocaram na História, infelizmente num lugar tão infame quanto essencial ao desfecho da guerra.
Trem chega a Treblinka
Foi dele que partiu a ordem direta de aniquilação total do gueto. Acredito só ter passado por um momento como aquele por ocasião da morte de meus pais. As execuções sumárias ou transporte para Treblinka(4) tinham acabado, agora o invasor ia reduzir a pó um bairro inteiro super populoso. Foram utilizadas bombas incendiárias, a Luftwaffe(5)entrou em ação contra população civil desarmada, foi um dos atos de guerra mais covardes de que se tem notícia. Em 16 de maio , o General Stroop enviou o seguinte telegrama a Hitler: "O bairro judeu de Varsóvia não existe mais" A conivência do povo polonês com aquele banho de sangue plantou a semente em meu coração daquilo que viria a ser o meu fim, num lugar ainda mais infame, longe dali.
Acho que talvez as acusações mais contundentes devessem ter sido feitas aos dirigentes do resto do mundo. Eles poderiam ter feito muito mais para evitar ou retardar o genocídio, e nada fizeram. Parece que só deram conta da incrível realidade daquela barbárie depois de descobertos os campos de morte, com seus fornos crematórios ainda fumegantes, e suas pilhas de corpos." CONTINUA NO PRÓXIMO E FINAL. Notas do Autor: (1) Blitzkrieg: Significa Guerra-Relâmpago. Consistia em utilizar ataques rápidos, brutais e de surpresa, utilizando muitas vezes infantaria, blindados e aeronáutica juntas. Essencial nas vitórias rápidas e desmoralização de inimigos na Segunda Guerra. (2) Judenrat: Conselho judeu, em alemão. Formado em cada gueto como forma de administração vinculado ao Exército invasor. (3) Heinrich Litpold Himmler: Comandante alemão, peça chave na execução do Holocausto judeu. (4) Treblinka: Quarto campo de extermínio da Polônia ocupada


Crônicas de um médico no III Reich - Parte III e final: Aushwitz

Só o trabalho liberta
"Fui transferido para Aushwitz no final daquele ano de 1943, segundo meu comandante eu faria parte como cirurgião de trabalhos científicos naquele campo. Os médicos chefes alemães aos quais eu seria subordinado eram Joseph Mengele e Carl Clauberg, entre outros, e segundo meus superiores, minha perícia e rapidez cirúrgicas seria essenciais no auxílio a esses trabalhos. Óbvio que eu não fazia idéia do que eu realmente encontraria ali e nada tinha me preparado para aquilo. Eu tinha sido originalmente designado para realizar ooforectomias(1), cirurgia bastante simples, mas que eu não via nenhum propósito serem realizadas em ambiente militar, até descobrir o que realmente estava sendo feito e os resultados que se procuravam. Do pórtico de entrada do campo, onde se lia que só o trabalho liberta, até a execução da maioria das experiências conduzidas ali, tudo era dissimulação e mentira. Desde a chegada dos prisioneiros, conduzidos como gado, passando pelo "preenchimento" de formulários em ambientes com altas de doses de radiação(para esterilizá-los), até a simples execução em câmaras de Zyklon B (2). Entrei em desespero, puro e simples desespero, mas tive a impressão de que poderia fazer alguma coisa para diminuir o sofrimento daquelas criaturas, não sei se só por piedade, mas uma forma de ser auto indulgente, de tentar diminuir a vergonha que eu sentia por ter traído a memória de meus pais e trabalhar como colaboracionista.
Vítima de experiência nazista
Conversando depois com oficiais alemães e colegas poloneses, fiquei sabendo que experiências médicas com cobaias judias, podemos chamar assim, eram disseminadas pela maioria dos campos de concentração da Polônia. Eram bem conduzidas, dentro do rigor científico e estatístico (3),e eram de maneira geral divididas em 3 categorias: Em primeiro lugar experiências que visavam a sobrevivência de oficiais do próprio Eixo. Em Dachau, por exemplo, oficiais médicos da Força aérea alemã realizaram experimentos sobre reações à altitude, usando câmaras de baixa pressurização, para determinar a altitude máxima da qual as equipes de aeronaves danificadas poderiam saltar de pára quedas, em segurança. Também experimentos com congelamento, usando prisioneiros como cobaias para descobrir método eficaz de tratamento de hipotermia, além de outros para testar vários métodos de transformação de água marinha em potável. Desnecessário dizer o número de mortes durante a condução destes experimentos
Cigano
Em segundo, desenvolver e testar medicamentos, além de métodos de tratamento para ferimentos e enfermidades. Nos campos de Sachsenhausen, Dachau, Natzweiler, Buchenwald e Neuengamme, foram testados agentes imunizantes e soros para tratar e prevenir doenças como malária, tifo, tuberculose, febre amarela, hepatite, inoculando os prisioneiros com tais doenças. Em Ravensbrueck foram feitos experimentos cruéis com enxertos ósseos, além de testarem a sulfonamida, a custa de muitas vidas. Em Natzweiler e Sachsenhausen, prisioneiros foram sujeitos aos perigosos gás mostarda e fosgênio.
Crianças de Mengele
Por último, experiências que buscavam aprofundar os princípios raciais e ideológicos da visão nazista. As mais infames foram as de Joseph Mengele, em Aushwitz, que utilizou gêmeos, crianças e adultos, além de experiências sorológicas em ciganos, querendo demonstrar diferentes comportamentos frente a doenças nas diferentes "raças". Foi num desses dias macabros que eu inesperadamente conheci meu fim. Ia começar o dia operando uma prisioneira do campo. Eu costumava fazer raquianestesia, embora nem todos concordassem em utilizar qualquer tipo de anestesia. Convenci-os, de maneira dissimulada, que aplicar anestesia facilitaria os procedimentos, pois os "pacientes" se mexeriam menos e fariam menos barulho do que simplesmente amarrá-los, como era hábito da maioria. Na verdade eu queria acabar com o sofrimento daqueles miseráveis, ao menos diminuir.
Cirurgias em Aushwitz
Tinha iniciado a intervenção, quando a prisioneira começou a balbuciar alguma coisa ininteligível, talvez consequência do barbitúrico que eu aplicava antes de iniciar a anestesia. Um dos soldados presentes, rindo, aplicou uma violenta coronhada na cabeça da paciente, mandando que se calasse, e gargalhando depois de constatar que sua atitude tinha despertado risos nos outros. Cheguei ao limite, não suportava mais aquela covardia, minha mente açoitada por pensamentos de vingança, virei-me, puxei a Lugger P08(4) do coldre do soldado, encostei em sua têmpora e puxei o gatilho. Foi tudo muito rápido, como um sonho...o cérebro dele voando aos pedaços pela sala junto com o spray de sangue vivo, os gritos e xingamentos, a confusão de tiros em minha direção...fui praticamente metralhado por 3 ou 4 Luggers, mas ainda tive tempo de esboçar um sorriso antes de desabar no chão, inerte. Uma grande lição para toda humanidade foi tirada desses dias sombrios, e que se espera que não se repitam, toda sordidez humana disfarçada de ideologia, toda sua desumanidade disfarçada de guerra. Não foi somente uma guerra, foi uma covardia sem precedentes. O neófito que criou o termo genocídio foi extremamente feliz em sua idéia." Notas do autor: (1) Cirurgia para retirada dos ovários.

(2) Zyklon B era a marca registrada de um pesticida a base de ácido cianídrico, cloro e nitrogênio que foi utilizada pelos nazistas como veneno no assassinato em massa por sufocamento nas câmaras de gás, era ativado em contato com ar.

(3) Ainda hoje se discute sobre se utlizar os resultados desses experimentos, que foram realmente bem conduzidos do ponto de vista científico, exceto é claro sua parte ética.

Lugger P08
(4) Principal pistola adotada pelo exército alemão, depois de 1908(daí seu nome), é considerada o maior souvenir da Segunda Guerra Mundial.





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