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A doença do Rei

A doença do Rei

sábado, 2 de outubro de 2010

 D. Afonso VI, Rei de Portugal, cognominado O Vitorioso, foi atacado, ainda na primeira infância, de uma doença denominada febre maligna pelos médicos do tempo e ficou hemiplégico e intelectualmente incapaz, o que lhe dificultou a educação que, segundo parece, não foi esmerada. O rei ia crescendo rebelde a toda a ação coerciva ou persuasiva dos preceptores, manifestando gostos grosseiros e sentindo-se atraído pela companhia de rapazes de baixa classe, que chegaram a ser admitidos no paço e em cujo pátio se batiam para gáudio do monarca. Foi declarado mentecapto e impotente pelos médicos. Apesar de se saber e ser de todos conhecido que o monarca era impotente para procriar, decide-se contratar uma prima de Luis XIV, Maria Francisca Isabel, com quem D. Afonso VI veio a casar, por procuração, em 27 de Junho de 1666. Entrou a nova rainha em Lisboa dois meses depois e, logo de início, deu conta do desequilíbrio do rei, o que lhe desagradou profundamente. D. Francisca cria uma cabala no paço, por ela chefiada e constituída pelo seu confessor, pelo seu secretário particular e pelo marquês de Saint-Romain, enviado secreto de Luis XIV. Souberam os conjurados atrair o infante D. Pedro à sua causa. Aberta a cisão entre este e o rei, a rainha vai tecendo toda a trama para a demissão do marido. Isolado, D. Afonso VI é incapaz de reagir, e assim, D. Pedro, no dia 5 de Outubro de 1667, entra no paço à frente dos seus partidários. Prepara-se a anulação do casamento, que vem a efetivar-se poucos meses mais tarde, obtendo-se a abdicação do rei, que fica detido no paço, enquanto D. Pedro passa a dirigir os negócios do Estado, convocando cortes em que foi jurado príncipe herdeiro. Entretanto, em 1668 o casamento do rei é declarado nulo, casando a Rainha com o cunhado. Em 1669 D. Afonso foi desterrado para Angra do Heroísmo. Voltou ao Reino em 1674, sendo encerrado no Palácio de Sintra, onde morreu nove anos depois, no dia 12 de Setembro de 1683.








Julga-se que D. Afonso VI sofreria de uma doença do foro psicológico chamada "Sociopatia". Henry Gleitman, in Psicologia,  descreve assim esta doença:

O Sociopata é um indivíduo que está continuamente a envolver-se em sarilhos com o outro e com a sociedade. É totalmente egoísta, insensível, impulsivo e irresponsável. As suas dificuldades iniciam-se normalmente com (...) episódios de fuga de casa e com uma "adolescência selvagem" marcada por beligerância, experiências sexuais precoces e promiscuidade. Podem verificar-se igualmente infrações como atear fogos ou crueldade para com os animais. Posteriormente surgem várias ofensas menores que freqüentemente escalam para sérios delitos legais e sociais. Mas as características particulares dos sociopatas são ainda mais graves, dado serem totalmente desprovidos de sentimentos genuínos de amor ou de lealdade para com qualquer pessoa ou grupo. Manifestam igualmente relativa inexistência de culpa ou ansiedade. Como resultado, o sociopata é uma criatura do presente cujo principal objetivo é o de gratificar os impulsos imediatos, com poucas preocupações relativamente ao futuro e ainda menos remorso relativamente ao passado. Os sociopatas não estão verdadeiramente socializados. Não se trata de animais de matilha mas sim de genuínos solitários. (...) Os sociopatas não obedecem a qualquer código de conduta, entregando-se prontamente aos impulsos do momento.:




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Leis Beatas

Leis Beatas


Em 12 de Setembro de 1564, o 17º Rei de Portugal, Cardeal D. Henrique, o Casto, determina que os decretos do Concílio de Trentosejam promulgados como Leis do Reino.
:
O Concílio de Trento foi convocado pelo papa Paulo III e teve uma experiência longa e agitada. Foi iniciado em 1545, estendendo-se até 1563. As determinações desse concílio fortaleceram o catolicismo e orientaram a Igreja Católica até meados do século XX. O Concílio de Trento manteve todos os dogmas do catolicismo:
:
Reafirmou a crença de que a salvação da alma se dá por meio da fé e das boas obras; reforçou o poder do papa; manteve o celibato clerical e os sete sacramentos (confissão, eucaristia, crisma, ordem, matrimônio, batismo, extrema-unção ); determinou a criação de seminários para a formação de sacerdotes; destacou a importância da missa para relembrar o sacrifício de Cristo; considerou criminoso o lucro proveniente da venda de indulgências; e organizou um Índice dos Livros Proibidos, o Index, isto é, uma relação dos livros proibidos aos católicos por ordem do papa. Esse Index, aliás, só foi extinto em 1965, durante o pontificado do papa João XXII.
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As atas do Concílio foram assinadas por 217 padres oriundos de 15 nações. Só Portugal, Espanha, a Itália e a Polônia é que aceitaram integralmente como lei e matéria de fé os decretos aprovados.
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Antero de Quental, a propósito da aplicação das leis do Concílio de Trento, num discurso intitulado CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARESNOS ÚLTIMOS TRÊS SÉCULOS, proferido numa sala do Casino Lisbonense, em Lisboa, no dia 27 de Maio de 1871, durante a 1.ª sessão das Conferências Democráticas, dizia:
:
Hoje as regra do Concílio de Trento já não são Leis do Reino. Contudo, passados mais de 130 anos sobre as palavras de Antero de Quental, ainda não estão mortas. O espírito sinistro da beatice ainda paira por aí!

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Usp disponibiliza obras raras em sua biblioteca virtual

Usp disponibiliza obras raras em sua biblioteca virtual











[Notícias] Usp disponibiliza obras raras em sua biblioteca virtual

Posted: 26 Jan 2009 06:28 PM CST


titulo [Notícias] Usp disponibiliza obras raras em sua biblioteca virtual

Em comemoração aos seus 75 anos, a Universidade de São Paulo (USP) disponibilizou novas obras para consulta em sua Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais. Entre os livros, obras anteriores à sua fundação, como textos do século 15 e 16.

São 38 títulos em várias áreas do conhecimento, obedecendo aos critérios de antiguidade, valor histórico e inexistência de novas impressões ou edições do título. Alguns desses foram digitalizados integralmente e estão disponíveis para consulta ou impressão para uso não comercial, enquanto outros tiveram apenas suas capas digitalizadas.

Entre os títulos está o Liber Chronicarum, uma história do mundo escrita em 1493, ricamente ilustrada e colorida à mão, com texto em gótico e notas manuscritas, além de Ordenações de Dom Manuel, de 1539, livro que traz em sua primeira folha uma xilogravura representando as armas portuguesas.
Mirela Portugal

Fonte: A tarde On-line




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Como sobreviver em debates literários pela internet:

Como sobreviver em debates literários pela internet:




1 - Faça uma lista de autores e críticos literários reconhecidos como clássicos e fundamentais. Dê preferência aos que não foram traduzidos em português ou àqueles cujas obras são raras de serem encontradas por aqui.


2 - Faça outra lista de citações de cada autor e crítico. Novamente, dê preferência às que não estão em português. Se for em latim, ainda melhor. As em português devem ser excessivamente obscuras, mas com um vocabulário que evidencie erudição.

3 - Separe as frases por assunto para que possam ser facilmente acessadas. Se não conseguir, navegue por sites e blogs para descobrir que expressões são comuns e eleja quais frases se enquadrariam ali.

4 - Ao utilizar a caixa de comentários dos sites e blogs, sempre ataque. Nada de propor questões ou parecer hesitante. Mostre estar sempre certo em tudo que diz. Cite os autores da primeira lista e reforce suas certezas com frases da segunda. Por exemplo, redija frases como "evidentemente o Brasil é muito ignorante e não leu Mendelssohn Heïgen-Bahn que prova o que digo quando me refiro ao nativus omnis proba de orbis na obra Essays of Music Literary"

5 - Se algum outro leitor discordar de você, humilhe-o. Primeiro elegantemente, sugerindo que ele não leu o suficiente para sequer respirar perto de você. Se houver algum erro ortográfico, invalide o argumento dizendo que alguém com uma escrita tão ruim não merece resposta. Caso ele ainda insista, seja agressivo.

6 - Caso outros leitores apóiem o ponto de vista contrário, escreva comentários na caixa utilizando pseudônimos que, obviamente, apóiam sua opinião. Para que não fique tão evidente que é você mesmo, use web proxies.

7 - Se algo que escreveu foi completamente equivocado (por exemplo, você disse que Machado de Assis escreveu Iracema), diga que se trata de uma ironia e reclame que as pessoas são burras demais para perceber isso.

8 - Se nada disso der certo, puxe o saco do dono do blog.

9 - Se ainda assim não der certo, abra você mesmo um blog obscuro chamando a todos de facistas-nazistas-pseudo-intelectuais-iletrados e coloque um link para ele na caixa de comentários. Utilize um pseudônimo que indique que sua missão é 'revelar' a verdade, claro.

Fonte: Odisséia Literária




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Quem é este homem?

Quem é este homem?

Da revista Época:


Quem é este homem?
Biografia do jovem Stalin revela um personagem - misto de poeta, terrorista e dom-juan - muito mais fascinante do que se sabia. Pena que não seja ficção
Por Marcelo Musa Cavallari

 
IRRECONHECÍVEL
Joseph Stálin fichado pela polícia em 1913. O passado de bandoleiro foi apagado pela história oficial
Mesmo depois de ter sido passado para trás, Leon Trótski, o sofisticado e presunçoso intelectual que se considerava o herdeiro natural de Lênin, não entendeu. Continuou retratando Joseph Stálin, o brutal ditador que assumiu o controle da União Soviética em 1924, como uma mediocridade cinzenta. Uma nulidade no panteão autoglorificado de teóricos e oradores do marxismo que fizeram a revolução russa. Durante décadas, o Stálin de Trótski dominou a historiografia. O próprio ditador, no auge do poder na década de 1930, fez todo o possível para manter essa imagem. Era melhor para o grande estadista que seu passado pré-revolucionário fosse esquecido.
Durante a revolução de 1905, que pôs fim ao absolutismo na Rússia, Trótski chefiava o Soviete de São Petersburgo e desafiava o poder do czar com seus discursos inflamados. Enquanto isso, escreveu Trótski anos depois, Stálin passava o tempo em um escritório despretensioso na Geórgia escrevendo artigos insossos para jornais.
Errado. Em 1905, Joseph Djugashvilli ainda não era Stálin. Mas, conhecido como Soso, Camarada Koba, o Padre, ou outros vários nomes tão falsos quanto Stálin, estava, às vezes literalmente, pondo fogo em sua Geórgia natal e no vizinho Azerbaijão, pólo petrolífero da Rússia pré-revolucionária.
Garimpando uma impressionante massa de documentos inéditos e pouco consultados até hoje, o historiador britânico Simon Sebag Montefiore montou em Young Stálin um retrato muito mais verossímil, e fascinante, que a personalidade gélida e sem graça que ele próprio desenvolveu assim que chegou ao poder. Sebag Montefiore já havia publicado Stálin: a Corte do Czar Vermelho, em que narra a vida no círculo do poder em torno de Stálin. Agora, o historiador volta a seu personagem. O Stálin pré-1917 que revela é um arruaceiro mulherengo que circulava no submundo do crime e das organizações revolucionárias de um império russo em decomposição. A encarnação perfeita do revolucionário sem medo da violência capaz de assumir a "vanguarda do proletariado" que Vladimir Lênin estava teorizando de seu exílio na Suíça.
Mas não foi a teoria de Lênin que criou Stálin. A figura nasceu do terreno fértil da Geórgia. Conquistada pela Rússia no fim do século XIX, a Geórgia se orgulhava de sua nacionalidade, de sua língua. Nunca deixou de sonhar com sua independência e cultivava a fama de seus rebeldes. Stálin nasceu em Gori, uma cidade na base do Cáucaso, cruzamento entre a parte européia e asiática do império russo. No bazar da cidade, armênios e tártaros se misturavam aos georgianos. Cristãos ortodoxos, muçulmanos e judeus compravam e vendiam o vinho, as frutas, as peles e os produtos de couro da região, levados e trazidos à cidade em lombo de burro ou caravanas de camelos.
Nos feriados religiosos, depois da missa, os habitantes de Gori praticavam o esporte oficial da cidade: briga. Organizados em dois times, trocavam socos e sopapos, começando com lutas individuais entre crianças, subindo até a categoria adulta. Aí eram todos contra todos até acabar o dia. Nos dias normais, gangues de crianças e adolescentes se dedicavam a brigar umas com as outras. Sem regras. Nas tumultuadas ruas da cidade, havia pouca segurança e muita oportunidade para um garoto arrumar encrenca. Soso, como Stálin era conhecido desde criança, não perdia nenhuma. Mas ele não era só líder de gangue. Era também aluno da escola mantida pela Igreja Ortodoxa Georgiana na cidade, dedicada a preparar os futuros seminaristas. Era uma raridade. Em geral, a escola só aceitava filhos dos padres ortodoxos, para os quais não há celibato. Filho de um sapateiro bêbado e violento que acabou abandonando a família, Stálin só conseguiu a vaga pelos esforços de sua ambiciosa mãe. E de seu talento incomum para os estudos. Na escola, o inteligente Soso não era só o melhor aluno, era também um excelente tenor e cantava no coro da igreja.
Perdeu a fé e aderiu ao marxismo quando já estava no seminário de Tiflis, capital da Geórgia, aos 20 anos. Daí para a frente, até a chegada ao poder, levou uma vida clandestina. Desprezava profundamente os intelectuais de esquerda. Mas não por se sentir inferior a eles intelectualmente. Continuava a estudar avidamente como se continuasse no seminário. Era capaz de ler Platão no original grego. Sebag Montefiore narra uma festa em que os companheiros socialistas do futuro Stálin se embebedavam. Ele se dedicava a estudar a biografia de Napoleão Bonaparte e anotar os "erros" cometidos pelo marechal que se tornou imperador da França. Stálin, já profundamente ambicioso, apenas achava que os intelectuais não faziam o que era necessário para que a revolução realmente acontecesse.
Ele fazia. Qualquer coisa. Assalto a banco, assassinato de inimigos, condenação e execução de traidores do grupo, incêndio criminoso, cobrança de taxa de proteção dos ricos empresários da Geórgia ou do Azerbaijão. Nada estava além dos limites de Stálin se a ação fosse render dinheiro, armas ou ganhos políticos para o Partido Bolchevique. E podia contar com a proteção de seus conterrâneos. Até os policiais da Geórgia ajudavam a esconder seus rebeldes da polícia secreta do czar russo.
O papel de chefe de quadrilha, quase como o de um mafioso, se combinava com o de ousado agitador de massas. Um dia depois de Stálin arrumar seu primeiro e único emprego como operário, na refinaria de petróleo do barão Rotschild, a empresa foi atingida por um incêndio. Stálin, provavelmente o mandante do crime, organizou o trabalho de apagar o fogo. Depois, foi cobrar dos patrões a gratificação de praxe. Diante da recusa dos administradores da refinaria, que sabiam ter sido um incêndio criminoso, Stálin chegou aonde queria. Deflagrou a primeira greve de petroleiros da Rússia.
''Stálin chegou ao poder como homem de violência e idéias, expert em banditismo e marxista devoto, mas, acima de tudo, ele acreditava em si próprio''
SIMON SEBAG MONTEFIORE, historiador, autor de
Young Stálin
Como orador, era direto. Os operários de verdade com quem convivia, ao contrário do nobre Lênin ou do dono de terras Trótski, não tinham dificuldade em entendê-lo. Seu magnetismo pessoal sempre foi capaz de atrair a lealdade de um bando de seguidores dispostos a obedecer a qualquer ordem. O mesmo magnetismo que fez o rapaz magro, manco, com um defeito no braço e marcas de varíola no rosto conquistar uma fileira de mulheres. Como Olga Alliluyeva, que, em épocas diferentes, foi sua amante e sua sogra. Com a mesma frieza com que planejava greves, assaltos ou assassinatos, o jovem revolucionário não se acanhava de abandonar mulheres e filhos, reconhecidos ou não. Como os dois que teve com Lidia Pereprygina, seduzida por Stálin aos 13 anos.
Quando Lênin tomou o poder, em 1917, passou a contar cada vez mais com a brutal eficiência de Stálin. O veterano rebelde georgiano, então com 38 anos, mestre em disputar a liderança de todos os grupos de que participou, desde as gangues de rua de Gori, tinha tudo nas mãos quando Lênin, o único líder revolucionário que realmente seguiu, morreu. Graças ao trabalho de Sebag Montefiore, fica mais fácil entender o que veio depois. Stálin tomou o poder. E foi eliminando, um a um, os ex-companheiros de jornada até se tornar o ícone do totalitarismo. Do selvagem aventureiro que conquistava mulheres e escrevia poemas (que, aliás, não são ruins e pontuam, em tradução inglesa, o livro de Sebag Montefiore), Stálin guardou apenas a astúcia, a paranóia e a crueldade. Como personagem literário, o jovem Stálin de Sebag Montefiore é uma descoberta sensacional.

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A falsa história nas escolas militares

A falsa história nas escolas militares

Publicada em:16/06/2010 - Fonte: Carta O Berro

Recife (PE) - A reportagem "Livro do Exército ensina a louvar ditadura", publicada na Folha no último domingo, desperta uma necessidade que vai além desta coluna, porque exige um aprofundamento que misture o jornalismo, a literatura, a história e a vida de quem um dia foi professor.

Penso nos jovens dos Colégios Militares, nos rapazes e mocinhas ardorosos obrigados a decorar algo como uma História vazia e violentadora, a que chamam História do Brasil - Império e República, de uma Coleção Marechal Trompowsky. Da Biblioteca do Exército. O nome, a origem, o Marechal, por si, já não garantiriam um bom resultado. Estariam mais para pólvora que para a História. Mas não sejamos preconceituosos, ilustremos com o que os estudantes são obrigados a aprender, como aqui, por exemplo:

"Nos governos militares, em particular na gestão do presidente Médici, houve a censura dos meios de comunicação e o combate e eliminação das guerrilhas, urbana e rural, porque a preservação da ordem pública era condição necessária ao progresso do país."

Uma breve pesquisa aponta que esses livros servem a um ensino orientado pela Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial (DEPA), criado em ...1973, sim, naquele inesquecível ano da ditadura Médici. Ou naquele tempo do gestor democrático, segundo a orientação dada aos futuros militares. E não se pense que tal ensino está à margem da lei, não. Ele se apoia em um certo Art 4º do R-69. Percebem? A caserna legisla.

Mas não é assim, sem nada, pois a DEPA organiza a proposta pedagógica "de orientar o processo educacional e o ensino-aprendizagem na formação de cidadãos intelectualmente preparados e cônscios do seu papel na sociedade segundo os valores e as tradições do Exército Brasileiro" (Grifo do seu documento). Que valores seriam esses, além das idéias anticomunistas do tempo da ditadura?

Penso agora nesses jovens dos colégios militares mantidos com os olhos vendados, pois deles se oculta a violência e o terror sofridos por outros jovens, tão brasileiros, generosos e heróicos quanto eles hoje:

"Eremias se tornou um cadáver aos 18 anos: perfurado de balas, o rosto irreconhecível porque uma só ferida, os cabelos, tão úmidos, tão grossos por coágulos de sangue, davam a impressão de flutuar no chão seco. Nada havia naquele cadáver que lembrasse o jovem que eu conhecera. O menino que eu vira em 1968 não anunciava aquele fim. Eremias não era aqueles olhos apertados, a boca aberta à procura de ar, a lembrar um afogamento. Um estranho peixe, com os cabelos a flutuar no seco.

Eremias morreu como um herói, permitam-nos dizer. O aparelho onde estava caíra. Fora entregue por um outro jovem preso, que não suportara as torturas. Cercado por forças do Exército, Eremias sozinho resistiu. Resistiu à bala, sem nenhuma esperança".

Ou aqui, neste depoimento da advogada Mércia Albuquerque, que assim viu e viveu no tempo da gestão do presidente Médici:

"Soledad estava com os olhos muito abertos com expressão muito grande de terror, a boca estava entreaberta e o que mais me impressionou foi o sangue coagulado em grande quantidade que estava, eu tenho a impressão que ela foi morta e ficou algum tempo deitada e a trouxeram, e o sangue quando coagulou ficou preso nas pernas porque era uma quantidade grande e o feto estava lá nos pés dela, não posso saber como foi parar ali ou se foi ali mesmo no necrotério que ele caiu, que ele nasceu, naquele horror".

E também aqui, nesta personagem oculta aos estudantes:

"Maria Auxiliadora Lara Barcellos atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim... tinha sido presa 7 anos antes, em 1969, no Brasil. Nunca mais conseguiu se recuperar plenamente das profundas marcas psíquicas deixadas pelas sevícias e violências de todo tipo a que foi submetida. Durante o exílio registrou num texto... 'Foram intermináveis dias de Sodoma. Me pisaram, cuspiram, me despedaçaram em mil cacos. Me violentaram nos cantos mais íntimos. Foi um tempo sem sorrisos. Um tempo de esgares, de gritos sufocados, de grito no escuro".

Essa história trágica, mas ainda assim fecundante, o papel destruidor de vidas pela Ordem da ditadura militar não pode nem deve ser ocultado. Há um clamor cidadão contra. Os colégios militares não podem mais continuar independentes do Brasil, como se fossem ilhas inexpugnáveis à civilização. A continuar assim, assistiremos todos a uma nova tragédia, que não será mais civil, de paisanos, como antes. Pois os fósseis já não cabem mais na pele dos estudantes militares do novo tempo. Ainda que os fósseis atendam pelo nome de livros de História da Coleção Marechal Trompowsky. 
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