CPDOC - Era Vargas: Pagu
<< Patrícia Galvão
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Patrícia Rehder Galvão nasceu em São João da Boa Vista (SP) em 1910.
Jornalista e escritora, mais conhecida por Pagu, casou-se em 1930 com o escritor modernista Oswald de Andrade. No ano seguinte, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB), vindo a editar, pouco depois, juntamente com Oswald e Queirós Lima, o jornal panfletário O Homem do Povo que, empastelado pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, só teve oito números.
Presa como agitadora numa greve de estivadores em Santos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como indicadora de lugares num cinema da Cinelândia, ao mesmo tempo em que fazia parte dos grupos de "autodefesa" que protegiam os oradores nos comícios e reuniões do PCB. De volta a São Paulo, lançou, no início de 1933, Parque industrial - romance proletário, assinando-se sob o pseudônimo de Mara Lobo, obra de nítida inspiração marxista.
No final daquele ano, iniciou longa viagem de volta ao mundo, enviando matérias para os jornais cariocas Correio da Manhã e o Diário de Nóticias, e o Diário da Noite, de São Paulo. Nos Estados Unidos, esteve em Hollywood, onde entrevistou cineastas e atores. Na Manchúria, assistiu à coroação do último imperador chinês, o príncipe Pu-Yi, proclamado soberando do estado-fantoche de Mandchukuo, criado pelos japoneses. Na China, entrevistou Sigmund Freud, que encontrava-se naquele país em viagem de recreio. Entrou na União Soviética por Vladivostok, chegando a Moscou depois de oito dias de viagem de trem pela Transiberiana. Em Paris desde meados de 1934, assistiu cursos da Universidade Popular e ingressou no Partido Comunista Francês. Participou dos movimentos de rua em defesa do governo da Frente Popular, união dos partidos de esquerda, tendo sido detida três vezes. Depois da queda da Frente Popular, foi presa como militante comunista estrangeira, sendo salva da deportação para a Alemanha pelo embaixador Sousa Dantas, que conseguiu sua repatriação para o Brasil em novembro de 1935.
Separada de Oswald de Andrade, foi presa no final daquele ano, sob acusação de envolvimento no levante armado promovido no Rio de Janeiro por setores da Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente de esquerda que reunia comunistas, socialistas e outras correntes na luta contra o integralismo e o imperialismo. Condenada a dois anos de prisão, fugiu do hospital para onde foram transferida por motivo de doença, em 1937. Novamente detida em 1938, foi libertada em meados de 1940, tendo permanecido, no toal, quatro anos e meio na prisão. Nesse mesmo ano, desligou-se do PCB. Em 1945, lançou A famosa revista (1945), escrita em colaboração com Geraldo Ferraz, seu companheiro desde 1940, e voltou a escrever na imprensa paulista, sobretudo como crítica literária.
Em 1950, concorreu a uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, na legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Como parte de sua campanha eleitoral, lançou o panfleto político Verdade e liberdade, no qual, além de explicar as razões de sua candidatura, rememorava os tempos de prisão e atacava o PCB. Não conseguiu, contudo, eleger-se.
Na década de 50, paralelamente à sua atuação na imprensa, passou a interessar-se por teatro, vindo a traduzir diversas peças de autores europeus, entre as quais A cantora careca, de Ionesco.
Faleceu em Santos (SP), em 1962.
Tiro de Letra
Academia - Autores http://www.tirodeletra.com.br/academia_autores/PatriciaGalvao.htm |
Patricia Galvão |
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Autoria - Orientação - Grau - Local - Data MACHADI, Christiani dos Santos G. Odília C. Ortiga Ms. UFSC 2006 Título: Patrícia Galvão: A face Oculta (leitura do conto Policial de King Shelter em Safra Macabra" Sinopse: O trabalho ilumina uma fase oculta da Obra de Patríca Galvão representada pela produção de contos policiais publicados na revista Detective na década de 40. O objetivo principal está centrado na leitura desses contos publicados masi tarde sob forma de livro com o título de Safra Macabra e no enquadramento deles em duas categorias: uma de caráter não serial e outra de caráter serial, conforme o conceito de serial em Bruno Monfort. Outra intencionalidade busca apoio na clássica divisão de Todorov em policial de enigma e policial noir. Além disso, a leitura desses contos é acrescia na parte introdutória, pela visão de vários outros: as duas histórias, a dupla de detetives, o crime, o lócus e a revelação do criminoso. Para cumprir tais objetivos, o trabalho desdobra-se, além da introdução, em mais três etapas. A unidade segunda enfoca traços da biografia e considerações sobre a bibliografia de Patrícia Galvão, escritora pouco lembrada pelas suas obras e sempre mencionada por sua luta social. a terceira é constituída por prólogo, que busca contextualizar a revista Detective, na qual os contos foram publicados inicialmente sob o pseudônimo de King Shelter, e por duas leituras analíticas, uma referente aos cinco contos não seriais e outra aos quatro contos de caráter serial. Em ambas as categorias é utilizada a leitura que segue o padrão do enigma e do noir, conforme a visão de Todorov, o que é acrescido de elementos de outros autores citados na introdução. A leitura privilegia os nove contos publicados em Safra Macabra, e a sua metodologia parte da síntese de cada narrativa, seguindo com a identificação ou não dos elementos constituintes do cânone policial estabelecidos por tais autores. Encerram o trabalho questionamentos dos resultados na leitura do corpus, reflexões atinentes ao embasamento teórico sobre o gênero e alguns dados históricos cuja finalidade é situar a autora nos quadros do gênero policial na literatura brasileira |
O CASAL QUE NÃO CABE

3.04.2010
O CASAL QUE NÃO CABE
Mas o mais novo casal "antropófago" não encontrou as portas da sociedade paulistana abertas. Segundo Flávio de Carvalho, "quando Oswald rompeu com Tarsila, ligando-se a Patrícia Galvão, foi repudiado pela sociedade". Olívia Guedes Penteado, famosa senhora da elite incentivadora dos jovens modernistas, recusa-se a receber o novo casal. Além disso, a crise de 1929 abalou seriamente a situação financeira de Oswald. Para fugir dos credores ele isolou-se com Pagú na Ilha das Palmas, em Santos. Outro endereço do casal foi a Vila Rafael, uma chácara no hoje bairro de Santo Amaro, onde vivia também Oswald de Andrade Filho, apelidado Nonê.
Em 25 de setembro de 1930 nasce Rudá de Andrade, primeiro filho de Pagú e segundo de Oswald. Segundo Boaventura, nessa época "Oswald vivia irresponsavelmente um sonho. Retalhava sua herança e a do filho, vendendo atabalhoadamente pedaços de terrenos para sobreviver. Fazia pouco caso de dinheiro, pois esperava a revolução iminente que iria socializar tudo. Nas ausências e retiradas estratégicas de Oswald e Pagú, quer para fugirem da polícia, quer para se dedicarem às tarefas políticas, Nonê tomava conta de Rudá".
Três meses após o nascimento de Rudá, Pagú viaja para Buenos Aires para participar de um festival de poesias. Lá conhece Luís Carlos Prestes e volta entusiasmada com os ideais comunistas. Ao retornar ingressa no Partido Comunista e convence Oswald a filiar-se também. Começa então para ambos um período de intensa militância política, com um estilo de vida oposto ao que haviam se acostumado até então. As festas e reuniões em sociedade cedem lugar à militância e à incerteza. Em março de 1931 fundam o jornal tablóide O Homem do Povo que, segundo seu programa, embora não fosse filiado a nenhum partido apoiaria "a esquerda revolucionária em prol da realização das reformas necessárias". Pagú escrevia artigos, fazia desenhos, charges e vinhetas, além de assinar a seção "A Mulher do Povo", em que criticava as "feministas de elite" e as classes dominantes. O jornal durou apenas oito números, sendo impedido de circular pela polícia após a confusão gerada por ataques de Oswald à faculdade de Direito, que foi chamada por ele de "cancro" que minava o estado. O Homem do Povo acabou fechado por determinação do Secretário de Segurança do Estado.
PRISÃO POLÍTICA E PARQUE INDUSTRIAL
Pagú escreve o seu romance Parque Industrial que Oswald de Andrade edita. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a TÁBUA CRONOLÓGICA.
Pagú, que já havia participado das agitações de rua por ocasião da Revolução de 1930, participa de movimentos de operários da construção civil em Santos e em 23 de agosto de 1931 é presa como agitadora num comício de estivadores em greve na cidade. Oswald, na tentativa de ajudá-la, faz-se passar por seu advogado e também é preso. Ao ser libertada, o Partido Comunista, para se eximir de culpa, obriga-a assinar um documento em que se declarava uma "agitadora individual, sensacionalista e inexperiente".
Em 1932 Pagú e Oswald já não vivem mais juntos. Ela vai para o Rio e instala-se numa Vila Operária, trabalhando como lanterninha num cinema da Cinelândia. Era parte do projeto do Partido fazer com que os intelectuais experimentassem o modo de vida e o trabalho dos operários. Apesar do entusiasmo mostrado pelos dois, a maioria dos companheiros do PC não acreditava nas intenções de Oswald e Pagú, conforme se observa nas memórias de um militante da época: "um desses elementos, podemos dizer perniciosos, era uma moça (poetisa) chamada Pagú, que vivia, às vezes, com Oswald de Andrade. Ambos haviam ingressado no Partido, mas para eles, principalmente para Oswald, tudo aquilo lhes parecia muito divertido. Ser membro do PC, militar ao lado dos operários 'autênticos', tramar a derrubada da burguesia e a instauração de uma 'ditadura do proletariado', era sumamente divertido e emocionante." (depoimento de Leôncio Basbaum, 1978)
Em janeiro de 1933 Pagú lança seu primeiro romance, Parque Industrial romance proletário, com edição financiada por Oswald. A autora esconde-se sob o pseudônimo de Mara Lobo por exigência do Partido Comunista. Esteticamente, Parque Industrial se insere nas experiências modernistas, notadamente com influências de Oswald de Andrade - que havia lançado seu Memórias sentimentais de João Miramar em 1924. É uma narrativa urbana, cujo foco central são os trabalhadores ou melhor, as trabalhadoras das indústrias da cidade de São Paulo, vivendo miseravelmente esmagadas pelas classes dominantes. Além de poder ser visto como um documento das ideologias de uma época, Parque Industrial é também um belo exemplo de uma experiência de linguagem.
Camila Ventura Frésca