Artigos de História
  • Home
  • _Sobre
  • _Privacidade
  • _.
  • _.
  • Lojinha
  • Contato

A formação do Brasil

  • segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
  • História Brasil

A formação do Brasil


Clique para Ampliar

Os índios (aqui retratados pelo pintor holandês Albert Eckhout, 1610 - 1666) foram valorizados na interpretação de Capistrano de Abreu para o processo de formação do Brasil.

26/12/2010

A historiadora Ítala Byanca Morais escreve sobre os escritos da maturidade do historiador cearense Capistrano de AbreuEm 2010, completaram 80 anos da publicação da 1ª edição do livro "Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil", do historiador cearense Capistrano de Abreu (1853-1927), uma obra póstuma publicada pela Sociedade Capistrano de Abreu. Tal comemoração me permite tecer algumas considerações sobre os escritos do autor.

A obra é composta por dez ensaios, produzidos entre 1887 e 1924, cuja temática tornou-se representativa da produção historiográfica de Capistrano de Abreu: a introdução dos sertões na escrita da história do Brasil.

A publicação recebeu o mesmo título do artigo mais denso do livro, composto por uma série de ensaios publicados no Jornal do Comércio, em 1899, e na revista América Brasileira, em 1924. A motivação principal do artigo homônimo foi apresentar a formação do território brasileiro, não apenas de suas fronteiras geopolíticas, mas, sobretudo, a formação do povo brasileiro e dos sertões. Combinação de elementos alienígenas (portugueses e negros) e nativos (indígenas e geografia), o povo brasileiro foi visto por Capistrano de Abreu como um verdadeiro caleidoscópio. Através dos caminhos das drogas do sertão, do apresamento dos indígenas, do gado, da mineração, ter-se-iam formado os sertões brasileiros que entre si divergiam e opunham-se ao Brasil português do litoral. A interpretação é significativa para a história do pensamento social e da historiografia brasileira por vários aspectos, mas dois ressaltam-se.

O primeiro pela percepção do autor de que a história do Brasil e de seu povo já constituía um capítulo à parte da história de Portugal, e inclusive, em certas dimensões, por completo independente. Daí a relevância do Brasil dos sertões. O segundo pela leitura de um Brasil heterogêneo e fragmentado devido às particularidades geográficas. Contudo, tal leitura despertava inquietude no historiador. Pois essa heterogeneidade manifestava-se também na vida política da nação.

Capistrano de Abreu e os intelectuais de sua geração acompanharam inúmeras transformações na política nacional, inclusive como elementos ativos nesses processos. As transições da mão-de-obra escrava para o trabalho livre e da Monarquia para a República foram as mais significativas. Aliados a esses processos, a vulgarização das leituras cientificistas e deterministas no Brasil, antes de trazerem soluções conceituais a esses letrados, aumentava suas incertezas quanto ao futuro do Brasil. Pois, sugeriam a impossibilidade da civilização desenvolver-se nos trópicos aos moldes europeus. Seriamos de fato uma nação? O que definia o Brasil e o brasileiro? Como perceber o Brasil em sua unidade se o seu território ainda era um mistério para o próprio Estado brasileiro? Esses eram os principais questionamentos. Em síntese, como indagou Capistrano em carta ao Barão de Studart, colocando em dúvida seu próprio ofício, "Punge-me sempre e sempre a dúvida: o brasileiro é povo em formação ou em dissolução? Vale a pena ocupar-se de um povo dissoluto?"

Relações de poder

O fato é que Capistrano de Abreu ocupou-se do povo brasileiro e de sua formação étnica em todos os seus trabalhos, buscando no passado colonial as estruturas da sociedade brasileira que o ajudariam a dar inteligibilidade ao presente no qual vivia. As relações de poder orientadas pelo compadrio, a sociedade patriarcal, as ingerências entre o público e o privado, a ausência de sentimento de unidade entre os brasileiros são alguns aspectos dessa estrutura evidenciados pelo autor. E, segundo ele, que ainda estariam fulgentes nos sertões do Brasil no início do século XX. Será que eles ainda estão presentes no Brasil do início do século XXI? E apenas nos sertões?

A obra de Capistrano de Abreu destaca-se também por suas qualidades historiográficas, apreciação praticamente consensual entre especialistas. As críticas dirigidas ao seu trabalho concentram-se no fato dele não ter escrito uma grande história do Brasil e alguns o acusam de falta de unidade teórica. Mas ao nosso olhar aí estão as suas contribuições à escrita da história do Brasil. Podemos observar em sua obra o amadurecimento da sua operação historiográfica. Se no início a teoria determinava as suas interpretações, nos trabalhos mais maduros do historiador as fontes e a epistemologia da História ganham relevo.

Capistrano de Abreu estava plenamente consciente da natureza singular-coletiva da narrativa historiográfica e da tarefa do historiador proposta por Wilhelm von Humboldt (1821) na qual os fatos somente ganham significação quando interpretados pelo historiador e conectados uns aos outros oferecessem inteligibilidade aos processos históricos. O apontamento mais factual e cronológico de Capistrano está imerso nesta perspectiva historicista. Afinal, para o autor, o estudo cronológico do descobrimento do Brasil perdia sentido diante da proposta de um estudo sociológico sobre a nossa formação cultural. Bem como a escrita de uma obra volumosa sobre o Brasil poderia contribuir muito menos do que um ensaio conciso e com uma problemática bem definida como foram os Capítulos de História Colonial. Por tais aspectos, os Capítulos e vários ensaios do autor nos quais sua operação historiográfica encontra-se minuciosamente descrita, poderiam muito bem compartilhar o lugar que a Apologia da história do historiador francês Marc Bloch ocupa na formação de nossos historiadores. Esperamos que o crescimento dos estudos sobre a escrita da história, como uma área de estudos específica, contribua para que a leitura de vários autores nacionais migre das disciplinas de história do Brasil e do Ceará para as disciplinas de teoria e metodologia da história em nossas universidades.

Historiadora e técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)



ÍTALA BYANCA MORAIS*
ESPECIAL PARA O CADERNO 3
Next
Newer post
Previous
Older post
Next
Newer post
Previous
Older post

Sobre

Blog com postagens de avaliações de livros e afins.
+ sobre mim

🌷 Arquivos 🌷

  • abril 2022 (1)
  • agosto 2021 (1)
  • abril 2021 (2)
  • março 2021 (8)
  • outubro 2020 (2)
  • agosto 2020 (2)
  • julho 2020 (4)
  • junho 2020 (2)
  • maio 2020 (1)
  • abril 2020 (4)
  • março 2020 (5)
  • fevereiro 2020 (9)
  • janeiro 2020 (2)
  • dezembro 2019 (1)
  • novembro 2019 (6)
  • outubro 2019 (7)
  • setembro 2019 (9)
  • agosto 2019 (1)
  • julho 2019 (4)
  • junho 2019 (4)
  • abril 2019 (2)
  • março 2019 (1)
  • fevereiro 2019 (1)
  • janeiro 2019 (1)
  • setembro 2018 (1)
  • janeiro 2018 (4)
  • outubro 2017 (1)
  • janeiro 2016 (1)
  • março 2013 (1)
  • fevereiro 2012 (12)
  • janeiro 2012 (9)
  • dezembro 2011 (6)
  • novembro 2011 (4)
  • outubro 2011 (6)
  • agosto 2011 (1)
  • julho 2011 (4)
  • junho 2011 (3)
  • maio 2011 (6)
  • abril 2011 (4)
  • março 2011 (4)
  • fevereiro 2011 (11)
  • janeiro 2011 (10)
  • dezembro 2010 (30)
  • novembro 2010 (12)
  • outubro 2010 (6)
  • setembro 2010 (5)
  • agosto 2010 (36)
  • julho 2010 (24)
  • junho 2010 (1)
  • maio 2010 (2)
  • abril 2010 (1)
  • março 2010 (21)
  • fevereiro 2010 (4)
  • janeiro 2010 (10)
  • dezembro 2009 (1)

Technology

Mensagem LastFM

Subscribe Us

🌷 Lendo 🌷

Early Auburn
Early Auburn
by Art Sommers
5 Licoes de Storytelling: Fatos, Ficcao e Fantasia
5 Licoes de Storytelling: Fatos, Ficcao e Fantasia
by James McSill
Devil in a Coma
Devil in a Coma
by Mark Lanegan

goodreads.com

Subscribe Us

2023 Reading Challenge

Ræchəl has not entered the 2023 Reading Challenge.

Newsletter (Inativo)

Receive all posts on your email.

Fashion

This work is licensed under CC BY-NC-ND 4.0

Ad Code

Responsive Advertisement

Link List

  • Home
  • Termos
  • Privacidade
  • Contato

Popular-Posts

3/Technology/post-list


- Jornalista Digital. Contato: (Linkedin)
ORCID iD iconhttps://orcid.org/0000-0001-8417-3563
  • Home
  • About
  • Contact
  • Home
  • Features
  • _Multi DropDown
  • __DropDown 1
  • __DropDown 2
  • __DropDown 3
  • _ShortCodes
  • _SiteMap
  • _Error Page
  • Documentation
  • _Web Doc
  • _Video Doc
  • Download This Template
  • Download This Template

Footer Menu Widget

  • Home
  • About
  • Contact Us

Social Plugin

Categories

Tags

  • Acervo
  • Artes
  • Biografia
  • Ciência
  • Cinema
  • Cotidiano
  • Educação
  • História
  • História Brasil
  • Israel
  • Livros
  • Marx
  • Música
  • Outros
  • Pagú
  • Política Internacional
  • Socialismo
  • Tecnologia Educacional
  • Vídeo

Categories

  • Acervo30
  • Artes3
  • Biografia2
  • Ciência19
  • Cinema6
  • Cotidiano11
  • Educação20
  • História87
  • História Brasil33
  • Israel8
  • Livros7
  • Marx2
  • Música6
  • Outros67
  • Pagú54
  • Política Internacional6
  • Socialismo2
  • Tecnologia Educacional3
  • Vídeo78

Tags

Labels

Get All The Latest Updates Delivered Straight Into Your Inbox For Free!

Random-Posts

3/random/post-list

Business

5/Business/post-list

Popular Posts

Duque de Caxias: herói ou vilão da História ?

fevereiro 18, 2011

Páginas

  • Home

Facebook

Subscribe Us

Most Popular

Duque de Caxias: herói ou vilão da História ?

fevereiro 18, 2011
© Artigos de História